segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Que caiam as barreiras.

Quase dormindo...
Ospa todo mundo... Esse tópico é de prosa, confissão e cumplicidade... Ou ao menos pede por isso. Explicando um pouco o atual de nossa jornada, alguns de vcs já devem ter sentido que esse tal de indoàíndia anda enchendo linguiça ultimamente!!! Mas fico feliz que muita gente parece ter curtido esse tipo de conversa pra boi dormir que anda saindo!!! Isso na verdade liberta... Eu tinha certo receio de que se o texto soltasse, divagasse e filosofasse, meus companheiros de viagem debandariam em busca de algo mais prático, bem completinho de dados técnicos e descrições exatas. Esse não sou eu, e pelo que percebo, não somos nós!!! Viva!!! Afinal de contas a gente se escolhe...

 
Pedra que não rola..
Verdade é que andei parado nesses tempos recentes, mas até agora não soube bem como contar. Tinha esse meu amigo Vitão aqui em Floripa, e entre ajudas mútuas e grande amizade, somados à beleza natural da ilha e outras coisinhas mais, fui ficando... Uma vez parado, tive que ir forçando o pensamento para retirar o máximo dos acontecidos no trajeto, mas quando eles vem assim, lá de trás, antes do tato e do cheiro, dos olhos, dos ouvidos e do gosto, e até mesmo da mente, eles já vem mastigados pela memória e consequentemente permeados de seja o que for que nos anime. Assim começamos aos poucos acordar o Eduardo Galeano que em nós existe. Todas as proporções guardadas, pois tal comparação pode soar deveras presunçosa... O cara é o cara, mas um pouquinho daquilo nos habita incondicionalmente.


El Maestro
Essa é minha vontade aqui e na vida. Que possamos comunicar com cada vez menos travas, menos barreiras e divisões bem definidas. Galeano, mestre da mistura, fez uma vida de fusão entre ficção, política, história, filosofia, arte, sonho, amor e poesia. E assim é a vida. Mesmo os grandes picos de alegria, se vistos como um todo, tem em seu dentro alguma pitada de tristeza ou melancolia, e isso os torna ainda mais ricos. A nós buscar beleza e poesia naqueles quandos que nos fazem tristes, sem gota de masoquismo, mas simples amor ao todo, que de tão inteiro nos assombra, mas também nos lembra de que somos completos, sempre.

     De coração aberto, agradeço aos companheiros de viagem pelo carinho expressado nos recados. Em mais uma semana estaremos novamente na estrada, pingaremos então alguma descrição do real aqui e lá novamente! Termino citando uma ótima do mestre, que há pouco completou seus 70 anos de total desrespeito às grades internas...

La Iglesia dice: El cuerpo es una culpa.
La ciencia dice. El cuerpo es una máquina. 
La publicidad dice: El cuerpo es un negocio.
El cuerpo dice: Yo soy una fiesta!

sábado, 20 de novembro de 2010

Será esse o meu fim?

Vez por outra, pessoa que sou, me pego pensando a respeito do que quero, sou, faço, mais comos e porquês. Sempre fica meio vago, mas pintam algumas conclusões também. Por sorte, as deixo livres para se reconcluirem caso assim desejem. Por sorte compreenda-se a lenta desistência de uns vários graus de teimosia braba.

Exemplo pratico e o pedalar. Os praticantes do esporte que encontro sempre me perguntam sobre as marcas disso ou daquilo, o funcionamento daquele outro trubisco, que roupas uso, as rotinas e os cuidados. Acabo sempre ficando meio sem resposta, assim, tipo amador em demasia, perto da vergonha de não saber tudo isso. A simples exposição de meu ponto de vista aqui pode desagradar alguns de vcs, mas ainda assim, acho que vale como exercício de proposição de idéias. Pedalar para mim e um simples meio.
Por mais agradável e saudável que seja, o ato em si de propulcionar minha bicle nunca chega a ser fim. Vejo como fins os lugares aonde chego e por onde passo vagarosamente nos quais me permito parar livremente. Ou o estado meditativo provocado pelo esforco físico repetitivo aliado as belas paisagens e uma suave brisa ou garoa.

Para mim, o momento em que o pedalar se torna um fim em si mesmo, é paradoxalmente quando este ato se desencontra de sua essência. A partir daí começam as preocupações com marcas de bicicletas, equipamentos, acessórios fru fru, vestimentas especializadas e hi tech, e toda sorte de coisas que se terminam em lenha acendendo a fogueira das vaidades. E então o que importa são quantos quilômetros se pode fazer em um mínimo de tempo, e quem é o mais veloz e musculoso, e quem tem grana pra comprar tal ou qual bike... Isso pra mim não interessa. Eu quero brincar de pedalar.
Tudo isso pra dizer de maneira bem seria, que eu acho que nós deveríamos todos brincar de viver. Esportes já foram um meio para se divertir. Desde que se tornaram fins, saiu a diversão e entrou a competição. Pra se divertir mesmo agora, há necessidade de um perdedor, que alguém se sinta mal. Fico na turma do frescobol, porque se alguém fica mal, eu também fico mal, não contente.

E no fim isso serve pra qualquer coisa. Acho que precisamos sempre estar atentos para perceber claramente em nossas vidas o que são ferramentas ou caminhos para se conseguir algo, e o que é a essência do que buscamos. Senão pessoas se tornam robôs, diversão vira guerra, vestimentas, apetrechos e outros tarecos acabam por definir quem somos. E assim terminamos por nos tornar escravos do que possuímos e desejamos. Como se mapas fossem territórios, e não representações. 
 
Tem essa frase, nem sei de quem, que pra mim ilustra bem a confusão entre meios e fins. Ela diz:

Se as pessoas são feitas para se amar, e o dinheiro e feito para se usar,
Porque que  que se estão usando as pessoas e amando o dinheiro?

sábado, 13 de novembro de 2010

Eles sempre dizem que não dá...

Por aí não dá!!!
 É engraçado pensar no número de coisas que não faríamos se acreditássemos em tudo o que dizem. Eu tenho aqui comigo essa quase mania de gostar de perguntar. Não sei bem porque, mas nunca fui muito chegado a guias de viagem. Sei que eles tem um monte de informações interessantes e alguns toques por vezes muito práticos. Mas acho que é porque eles acabam sendo mais uma maneira de provocar o isolamento. Já tenho uma certa timidez natural, e acredito que caso eu carregasse um guia, acabaria perdendo preciosas chances de contato com as pessoas.

Tranquilo né?!!!
Então eu vou perguntando tudo. Qual caminho tomar, como fazer, onde comer... Acho que isso torna a viagem mais rica, pois estarei fazendo escolhas baseadas na experiência das pessoas que vivem ali. Além disso, esta busca de informações resulta frequentemente em conversas inesperadas e muitas vezes bem divertidas. Mas, alguns cuidados devem ser tomados com esta forma de se informar. Filtrar é essencial, pois a negação é uma constante. Não sei bem o que provoca este tipo de pessimismo que brota da frequente ignorância geográfica dos interpelados. Quando as pessoas não sabem se um caminho é viável ou não, é quase seguro que vc vai ouvir que é impossível, e por vezes até com os ilusórios detalhes impossibilitantes!

Desnecessário dizer que o contrário também acontece. Então aquela trilhinha tranquila que o tiozinho explicou sorrindo torna-se um pesadelo de lama até o joelho e mosquitos à noite no mato!!! Então vamos assim, ouvindo sempre, mas deixando pra acreditar só de vez em quando, porque se eu fosse acreditar no que falam, nunca teria começado essa viagem...

sábado, 6 de novembro de 2010

Leve Sensação...

Alta noite já se ia. Escuro fazia na barraca quando me dei conta do ocorrendo. Uma boa sensação percorria-me o corpo durante aqueles momentos em que me senti mais leve que o ar. Totalmente livre dos grilhões gravitacionais de nosso pequenino planeta, voava. Já não fazia sentido aquele sentimento de inveja aos pássaros, que chegava a questionar a própria ordem do todo.

Mas como isso se dera, era a questão que me assombrava. Minha mente entrou em um estado de êxtase e atenção total. Os pensamentos começaram a se voltar para o início da jornada, como que visando explicar-me o que então sucedia. Vi-me ali, beirando o mar, olhos semi-cerrados e o corpo na típica posição de quem anseia meditar, o que já é por si só um contra senso. Anseio e meditação são como água e óleo, ou melhor dizendo, doença e cura... Mas mesmo estas tentativas de busca pelo estado meditatório sempre conferem certa leveza ao espírito e consequentemente ao corpo. Nunca ouvi falar porém sobre pessoas em estado de iniciação meditatória alcançando tão prontamente as delícias da levitação. 

Veio então outra possível explicação àquele inusitado fato. O esforço físico proporcionado pelo constante pedalar, aliado à visão frequente de belíssimas paisagens, forçosamente haveria de ter amplificado minhas capacidades de contato com a energia cósmica e consequentemente despertado habilidades humanas normais, porém usualmente dormentes. Mas ainda assim, aquilo me parecia muita aquisição de mestria energética em tão poucas semanas de viagem.

Finalmente viera-me ao pensar aquilo que bem poderia ser o motivo. Vinha eu me alimentando recentemente de forma um pouco exagerada, procurando sanar uma possível falta de proteínas em meu organismo que poderia decorrer de um grande esforço físico sem a ingestão de uma correta quantidade destas moléculas essenciais. Tendo a não comer os bichinhos que vivem, fazendo exceção aos que nadam. Por este motivo, durante a viagem, capricho na deglutição de ovos, queijos, leite, feijões, lentilhas, grãos de bico, e tudo mais que contenha alto teor protéico. E, bem se sabe, que estes alimentos uma vez digeridos produzem alto teor de gases mais leves que a média dos encontrados ao nosso redor.

Ali caiu-me a ficha, lembrei de um almoço horas atrás onde esta característica alimentação se havia unido sinergéticamente à um pouco de chucrute e couve flor. Só então fiz atinar ao desagradável odor que preenchia minha leve habitação e que nos propulcionava levemente cada vez mais ao alto. 
Sorri, lembrando-me o quão normal é, 
que toda maravilha seja permeada de ônus.

sábado, 30 de outubro de 2010

Esse cara é uma viagem!

Foge um pouco ao assunto, mas faz parte... Tenho ouvido tanto esse disco, que acabou se tornando trilha sonora provisória da viagem. Tom Zé. O cara é realmente uma viagem. Grande amigo Ramon que veio há uns 15 vanos com um cedê do ótimo "Com defeito de fabricação". Veio dizendo que o cara era uma espécie de Zappa Brasileiro, pela inovação, talento e desrespeito completo à ordem vingente. Me amarrei tanto que fiz algo de inusitado para mim. Achei o bendito cedê em promoção numa loja, comprei os sete que haviam e distribuí para os próximos. Achei que algo bom assim tinha de ser difundido. Daqueles anos pra cá, eu nunca mais soube parar de ouvir esse baiano. E agora acabei de descobrir esse que é o seu segundo disco. Maravilhoso!!! Preciso dividir com vcs!!!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Como é que faz... (PT2)

(Continuação do post anterior)
Bonitinhos!!!

Pedalando... É aí que é gostoso e sofrido numa coisa só!!! "Ingual amorr". Mas é lindo o passeio, cheio de mar e de nuvem e de florzinhas coloridas. E casas de madeira antigas que eu gosto tanto, e umas pessoas trabalhando a terra com umas vaquinhas lá deitadas tranquilas. Depois é um riozinho e tem lagarto e passarinho conversando. Até golfinho tem. Daí vem a ladeira e a gente esbafori muito e para cansado com o coração a milhão e vai... Só pra ver uma linda paisagem no alto daquele morro e descer bem rápido correndo.

Pausa para um lanchinho.
Almoçando... Pra isso não tem regra nenhuma. Tem vez que é um restaurante de posto com um buffet livre de sete reais, outra é um lanche, e outra são três bananas e duas barrinhas de cereal. Se estou parado em alguma cidade procuro comer algo tradicional quando há. Não tem feito muito calor, mas em viagens onde ele fez, eu parava, cozinhava, comia, escrevia e dormia um pouco. Mas nessa não tá assim.

Traquitanas para jantares salgados e arenosos...


Jantando... Também não há certeza. Mas tento cozinhar. Pode ser couscous com lentilhas e algum vegetal, uma sopa de ervilha seca, um camarãozinho com purê... Teve um dia na Ilha das Peças em que acampei na praia deserta linda. Mas a noite, o vento fazia bastantes dos seus costumes soprados. Improvisei técnica assaz inteligente de enterrar a panela e o fogareiro de maneira engenhosa. Esta geringonça resultou-me um jantar arenoso ao qual adicionei bem mais sal do que deveria, uma verdadeira delícia.

 


Depois é deitar e ler ou escrever um pouco. Acabei recente de ler um livro que posso indicar sem dúvidas, mas com ressalvas!!! ''A Assombrosa Viagem de Pompônio Flato", do Eduardo Mendoza. Uma grandiosa aventura na qual um Jesus de 6 anos de idade, Maria e José são personagens, de onde a ressalva. Incrível presente da querida Cris.

Ainda estão faltando alongamento e meditação na viagem, eles devem estar pedalando um pouco devagar, mas sei que eles vão chegar...

sábado, 23 de outubro de 2010

Como é que faz... (PT1)


Camping de Matinhos
Queridos hospitaleiros. Dona Zena e o Velho Balan
Uma amiga Lúcia disse outro dia que as pessoas perguntavam, mas como ele faz, como ele dorme, o que ele come??? Percebendo não ter respostas para essas perguntas, aconselhou-me a contar  um pouco da pseudo rotina que me ocorre. É um pouco difícil na verdade, pois sou uma pessoa esquizofrenicamente dividida entre um grande rigor organizacional e o caos completo. Mas vamos tentar. Vou quebrá-lo em dois para não ficar comprido demasiado.

Dormindo... Tenho usado muito campings. Quando atravessei a França de bicicleta em 2005, dormia quase somente em cantos de mato de alguma propriedade ou em beiras de rio que em que aproveitava para descarregar a nhaca de dois, três ou quatro dias de pedal!!! Mas as estradas por onde passei eram bem pouco movimentadas. Nesta viagem, como tenho ficado muito próximo ao mar, e sendo este corpo tão querido aos humanos, sinto-me um pouco menos tentado ao camping selvagem pela abundante presença próxima de seres dotados de 32 dentes. Mas também me ocorre de ser convidado a dormir e comer pelas pessoas do caminho, e isso é uma delícia... 
Yo e mi Cloclô
Acordando... Sem hora fixa, mas não varia muito. Quando fica claro na barraca, acordo e começo o movimento de dobrar o saco de dormir, empacotar as coisas, desarmar a barraca, dar uma checada na bicle e carregá-la com os 32 quilos de tralha que nos acompanham. Em meio a este processo também faço uma banana amassada com minha pauer granola pessoal e mel, como algumas frutas frescas e secas e caio na estrada, passando numa padaria pra comer um queijo quente e uma média. Por falta de pressa e por gostar das minhas bugigangas bem organizadinhas sobre a Clô, isso quase sempre ocorre entre as dez e o meio dia.

Volto na segunda contar o resto... Bom final de semana pra vcs!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Bombinhas não existe mais!!!

Alguém aí tem um bagageiro sobrando?
O pequeno balneário parece ter sido assolado por uma chuva de concreto mediocremente organizada em forma de casas, lojas  e pequenos prédios de três a cinco andares. Tudo assim, um colado no outro pra ficar bem lotado... Coisa de velho essa de ficar reclamando dos resultados do progresso, mas é que foi triste a volta vinte anos depois. Já me haviam falado que a coisa tinha construído muito por lá, mas nem isso poupou-me o choque.
A milésima gambiarra a gente não esquece...

O pedal havia sido complicado naquele dia, longo, cansativo, cheio de lombas graves, e com mais uma quebra de bagageiro (perdi a conta de quantas já foram!!!). Como minha milésima gambiarra não surtiu grande efeito, tive que pedalar à noite, de Bombas a Bombinhas com os bagageiros sacolejando no guidão. O trajeto não é longo, mas desta forma foi bem difícil. Desagradável minha surpresa ao descobrir que o camping onde vivi tantos momentos agradáveis muitos verões atrás, cedera lugar a um horrendo condomínio. Passou-me na cuca aquele filminho  de conversas à noite entre os primos e amigos, o ribeirão onde pescávamos pitus, a linda  e voluptuosa namoradinha argentina e a esquadrilha da fumaça que quase fazia as barracas levitarem feito balões!!!

Bombinhas
Mim gosta ganha dinhero
Ali estava eu, exausto e expulso de meu paraíso adolescente. Tive que vencer mais uma lomba para chegar ao camping mais próximo, na praia do Retiro dos Padres. Esse lugar continua lindo, mas ao que ouvi dizer os bons homens do clero já o puseram à venda. Como bem sabemos, estas amáveis gentes embatinadas não são dadas a andar longe de seus cofrinhos. "Mim qué rezá, mim gosta ganha dinhero".

Depois passei alguns dias no apartamento de meus tios na praia ao lado. Mariscal também foi bastante moldada pelo concreto, mas ali houve ao menos um tanto a mais de respeito pela orla marítima, com uma certa distância entre as habitações, bem poucos prédios e somente de até três andares e nada deste ostentatório método alpinístico de se construir morro acima.

Vista do Canto Grande em Mariscal
Só atinei para o fato de que por um longo tempo ali pedalando, parecia haver algum tipo de proibição às casas de um pavimento, até que mais para o canto as vi!!! Mas bem, sempre terei as memórias e a sorte de ter vivido o que ali vivi. As fotos para ilustrar, serão as que me agradam. Até porque não me ocorreu fotografar o desparelhado maciço arquitetônico local. Melhor olhar para o mar cristalino, esquecendo propositalmente de olhar sobre os ombros, e seguir pedalando...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Era para os pássaros, hoje quem quiser que voe!


Vinha eu alegre pelo caminho, passando por lugarejos bem demais bonitos. Engraçado porque já vim tanto pra esse litoral de Santa Catarina, que me surpreende o quão pouco dele conhecia. Itapocoroy em Penha achei uma graça. E logo depois, pra ser teimoso, peguei uma lomba boa de terra bem na beira mar, indo contra os avisos de um bem simples senhor. Danada ladeira me fez suar bicas, mas trouxe compensações longes de minha pré-imaginação. To ali sofrendo mais uma subida e me aparece um mirante pouco usual, todo coberto de uma graminha verde e com um simpático motorhome antiguinho estacionado. De trás me sai um figura bem suado com uma foice na mão em pleno feriado.Fazemos olá,  pouco conversando nos reconhecemos como elementais da estrada que somos. Pouco depois, Barra Velha, como se apresentara meu novo amigo, saca de uma mochila gigante aquele mágico aparato que faz voar.Já fiz inclusive curso e poucos vôos de Parapente e tenho grave loucura pelo negócio.Logo estava ele lá, feito as gaivotas que eu vinha invejando pelo caminho, sobre uma paisagem deslumbrante.
 
Depois mais um e outro, até que pintou o Jackson. Instrutor da coisa e praticante de Vôos duplos. Expliquei-lhe minha situação monetária e ele me fez um grande desconto com cervejinha e almoço inclusos. Minutos depois, lá estavamos nós, a 800 mts de altura sobre o mar e montanhas cobertas de mata atlântica. Praias e mais praias à vista e uma suave brisa no rosto. Inevitável ser redundante ao falar sobre a inexplicabilidade das sensações, até porque, ali vc não pensa...

Absolutamente maravilhoso. Logo após ele ainda fez um vôo triplo com seu casal de filhos pequenos. Pensei da sorte daquele garoto que já voava assim desde os três anos de idade. Deixei aqueles companheiros do ar com uma alegria imensa no dentro, tanto pelo presente que me deram, quanto pela escolha de vida que fizeram. Sei que são pessoas melhores do que seriam por vivenciar frequentemente este extase, pois não são orgulhosos disso, simplesmente voam.





sexta-feira, 15 de outubro de 2010

São Chico do Sul... Cidade linda.

Pier em Vila da Glória
Lá se iam quase trinta anos sem ali pisar. Cheguei por caminho dos menos comuns. Vinha sofrendo os 28 km que separam Itapoá de Vila da Glória através de uma estrada de terra, melhor dizendo, de barro! Fiz uso de uma pequena embarcação comercial para chegar à Ilha de São Francisco. De longe já se percebem alguns edifícios bem antigos, e desembarcando, o ar agradável de uma pequena cidade histórica. Estas cidadezinhas muito me agradam, principalmente após ter vivido em Pirenópolis GO. Descolei uma pensão razoável e de preços módicos, e fui dar comida às mídias sociais, principalmente esta que vcs lêem agora, meu xodózinho, o blogue... A lan hose encontrada era bastante colorida e habitada por senhoritas portando poucos panos e vastos decotes, sem nenhuma economia de maquilagem. Jovens que me pareceram chineses falavam efusivamente em alguma linguagem oriental. Como estávamos muito próximos ao porto da cidade, não me foi tão difícil chegar à conclusão de que estava visitando a primeira prostibulanhouse de minha vida! Pena ter me faltado o senso de fotografá-la. No dia seguinte, após arrumar minhas tralhas sobre a bicle (isso leva um tempo desgraçado!!! e quando acampo piora!) Saí de andada, vidiando e fotografando a bela cidade.
É isso aí Amyr, esse é o cara! (Foto noMuseu do Mar)
Houve mais de um canto que me tentou fisgar, como se São Chico Sereia do Sul me quisesse fazer desviar da trilha e estabelecer ali morada. Conheci a diretora do belo Museu Nacional do Mar, que me apresentou ao seu Raul, senhorzinho franzino e agradável de 83 anos, 70 dos quais dedicados ao mar e ao que o encima, os por nós ditos barcos. Hoje é responsável pela restauração de tudo que é embarcação que mora naquele museu. Com ele travei agradável papo sobre os idos enquanto ele me mostrou inclusive uma canoa que teve talhos cravados por nosso atual presidente, ainda candidato na época. Depois fui, deixando cuidadosamente ali um pedacinho de mim pra voltar buscando numa outra vez.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Eu não vou tomar droga nenhuma !!!

Exemplo de Complemento (Não foi o que eu vi!)
Um amigo da estrada esses dias me alertava sobre a necessidade de se compensar com muito cuidado minerais e nutrientes consumidos durante a viagem. Ele mesmo já havia feito um bom trecho de bicicleta, e sob orientação de uma personal trainner, recorrido ao uso de alguns complementos. Eu lhe disse que tentava fazer uso apenas a uma alimentação balanceada, com lentilhas e cuscuz (por seu rápido cozimento, alto teor proteico e de carboidratos respectivamente), frutas secas oleaginosas (especialmente a castanha do pará, por serem muito calóricas e com muitas propriedades interessantes), frutas frescas (sobretudo banana por conter muito potássio), frutas desidratadas em geral (por propriedades e facilidade de transporte, como os itens anteriores), mel e uma granola de meu preparo que leva entre outros flocos de quinua, gérmen de trigo e levedura de cerveja.

Meu interlocutor disse que ainda assim eu deveria recorrer a complementos de proteína, maltodextrina  e outros de que não lembro o nome. Para não ser teimoso fui à farmácia ver o que havia nesse sentido. Estudando bulas, e que me corrijam os que compreendem melhor o assunto, li que um dos melhores ali encontrados, trazia 5 gr da substância em questão por dose indicada para consumo diário, mas se tomado com leite, o total de proteínas era de 16 gr. Ora, ou bem este produto multiplica-se protéicamente quando tomado com leite, ou o leite simplesmente contém mais proteínas do que esta joça de 60 reais o potinho. Prefiro caprichar então no leite, queijo e ovos, visto que não sou dado ao consumo de carne, e não tomar droga nenhuma!!! Verdade que aumentar a dose destes itens tende a provocar fortes flatulências, mas soube que os complementos também o fazem. O jeito é dormir com a barraca aberta e aproveitar esse gás durante o dia como propulsão extra ao pedal, assim como uma espécie de turbo gastro-intestinal...

sábado, 9 de outubro de 2010

Tão simples e tão agradável.

Verdade seja dita, não sou eu o mais católico dentre os seres humanos. Nem tampouco ligado à outras religiões quaisquer, apesar de um certo interesse em alguns tipos de Budismo. Mas ia eu por uma dessas estradas bonitinhas margeadas de mata atlântica, quando avisto uma pessoa trabalhando próxima. Aceno-lhe a cabeça como costumo fazer, e este homem me devolve um sorriso realmente lindo. Olha um pouco a cena, e toda essa bagagem e diz, ''que Deus lhe acompanhe.!'' Mas o fez com tamanha convicção e simpatia que foi realmente tocante. Percebi que até havia alguma curiosidade em seu olhar a respeito de minha jornada, mas isso não era importante. Importava-lhe proferir aqueles votos. Sei que seu dizer em nada combinava com a companhia de um velho barbudo sisudo e severo que me vigiaria e a quem eu deveria temer. Aquele homem, à sua maneira, desejou-me todas as boas coisas possíveis. Ele quis que tudo o que existe me invadisse e acompanhasse. E a isso eu digo amém!!! Obrigado amigo...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O apoio que faltava!!!

Parece bem bobo escrever um post a respeito de um apoio vulgo "pézinho". Mas eu digo quer não é! Até poucos dias atrás eu só contava com o apoio central, mais comum em bicicletas normais. Acontece que por si só ele não aguenta o peso de uma bicicleta carregada para viagem. Parar a Clotilde estava sendo um verdadeiro calvário, sempre com todo um malabarismo necessário, e mesmo assim as quedas ocorriam. Tencionando encontrar pessoas de Curitiba em Morretes, liguei ao meu primo Ricardo (ele não há de gostar que eu entregue seu apelido de infância aqui, o teta, mas como evitar...) que me trouxe um segundo destes artefatos que se encaixa na parte traseira do quadro da bicle. Agora com dois pezinhos, ninguém segura minha Clô. Ela faz isso sozinha!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um ótimo dia...

     A chuva que insistia há dias deu uma folga finalmente. Pude então deixar Morretes e seguir viagem rumo à Matinhos, de onde agora escrevo. Foram 69 km de lá para cá, e esse é por hora o recorde de percurso em um dia desta viagem!!! Verdade que o trajeto era bem plano, com excessão dos primeiros 13 km, (Afinal uma cidade não pode se chamar Morretes por nada!) mas devido ao peso de nosso fardo, acho que podemos considerar esse numero como bastante satisfatório. 

Igrejinha no Caminho
     Também senti menos os joelhos e ouso dizer que as subidas não são mais as mesmas, e isso não por questões geográficas, e sim porque estamos pegando algum ritmo! Além disso, tivemos um agradável solzinho ao fim da tarde, com uma belíssima luz. O camping encontrado é bonito, organizado, fica no sopé de uns morros lindos e pertence à um casal muito bacana que ao ouvir sobre a jornada me deram 100% de desconto!!! Tudo indica que dormirei bem...

domingo, 3 de outubro de 2010

Cultura caiçara e proteção ambiental. (03/10/10)

Estação Ecológica da Juréia
Cruzando este litoral onde se encontram São Paulo e o Paraná, tive contato com um assunto interessante e delicado, que remete basicamente à esta espécie de esquizofrenia coletiva que faz com que o homem se perceba como um ser desintegrado da natureza. Daí nasce esta ânsia de subjugar o  ambiente causando os nefastos efeitos com que estamos acostumados a lidar e que com muitos dos quais até nos acostumamos. A partir desta falácia, a sociedade percebe a necessidade de cercar alguns pequenos pedaços onde resistem a fauna e a flora, e deles expulsar a ocupação humana, sem perceber que em muitos casos e ao contrário do senso difundido, é justamente quem ali está que protege o que restou. Isto ocorre geralmente em nome de um pensamento ecológico importado e atrasado, mas que muitas vezes encobre interesses econômicos de gente que se faz de inocente.

Dados mostram que 25% dos brasileiros ainda reside em comunidades tradicionais. E sempre, onde há algo que se pense em proteger, lá estão estas incômodas pessoas. Ali se inicia o árduo processo de convencer esta gente de cabeça dura de que eles devem sair dali para que se possa delimitar e "proteger o que restou". Mas seria mesmo uma coincidência o fato de que na maioria dos casos, o "que restou" está quase sempre "habitado". Num esquema de ocupação tradicional, herança da cultura indígena, a mata é o quintal dos indivíduos que ali residem. Sua proteção está portanto intimamente ligada à subsistência dos mesmos.
      Um bom exemplo disto são os grandes parques no cerrado brasileiro em que não há habitantes. Quando vem o fogo, queima tudo, pois não há ninguém próximo para apagá-lo no início. É claro que incêndios também são causados por métodos tradicionais de cultivo como a queimada, mas isso se resolve com a conscientização de que existem técnicas mais modernas e assertivas, e não com a expulsão daquele que seria o maior interessado em proteger esta área. Outro exemplo disto ocorreu durante os anos 80. Por achar que o Palmito Jussara da Mata Atlântica estava em perigo devido à sua exploração econômica, o Paraná proibiu sua extração. Santa Catarina não o fez. O resultado foi que em pouco tempo, as matas catarinenses mantinham estas palmeiras, enquanto as mesmas praticamente desapareceram do estado vizinho. Isso mostra o óbvio, onde se podia colher, havia manejo e proteção por parte dos moradores locais, novas mudas eram plantadas e se respeitavam alguns espécimes para a reprodução. Onde havia a proibição, não havia tempo ou interesse para manejar e as plantas eram retiradas na calada da noite.

Clotilde embarcada
     A natureza se recupera e até se beneficia de um esquema de ocupação tradicional. Existem estudos que comprovam inclusive que a Selva Amazônica foi toda "manejada" pela ocupação indígena, o que auxiliou inclusive na dispersão de espécies e consequente aumento da biodiversidade. O caiçara conhece e respeita os ciclos naturais, caçando e pescando nas épocas corretas, evitando os períodos de reprodução dos animas, simplesmente por depender deles. A terra é cultivada num sistema de manejo onde cada parcela descansa o tempo necessário antes de voltar a ser semeada, não necessitando assim de qualquer aditivo químico. Há um respeito consciente à natureza por se conhecer profundamente o caráter simbiótico desta relação. Logicamente existe a necessidade de educação junto a estas comunidades para que se possam inserir novas técnicas de manejo da floresta com métodos cada vez menos impactantes e que tragam maiores benefícios aos extratores. Mas isto deve ocorrer dentro dos moldes culturais da gente local, através de seus indivíduos, como já vem ocorrendo há algum tempo pela cooperação de caiçaras que ampliam seu campo de visão formando associações como o MJJ (Movimento dos Jovens da Juréia) e as raras ONG's que tem realmente uma visão moderna e produtiva da questão.

     Além disto tudo, no momento em que estes povos constroem, reformam ou preparam o terreno para novos plantios, tradicionalmente ocorre o mutirão. Este trabalho comunitário coletivo que proporciona obras muito rápidas e baratas, também resulta em momentos de festa, alegria e cultura. O proprietário fornece comida e bebida, e após o término do trabalho começa o Fandango, também ocasionado por motivo de casamentos, aniversários ou festas de santos. Ali se vê uma série de cantos e danças, ritmos diferentes, roupas e adereços tradicionais, instrumentos musicais fabricados artesanalmente, etc. Estas ocasiões são pontos culminantes de um estilo de vida com tudo que pessoas precisam para se sentir honradas e orgulhosas de seu trabalho e cultura, com muita diversão.

    Quando isto não ocorre porém, e estas populações são rechaçadas de seu habitat, algo muito diverso acontece. Aumentam as periferias de cidades vizinhas como Peruíbe ou Iguape, no caso da formação da Estação Ecológica da Juréia. Muitos destes indivíduos, aculturados e sem conhecimentos para obter renda fora de seus contextos, acabam caindo nos braços de um estilo de vida marginal, onde a revolta, ainda que não seja o melhor, é um caminho quase natural de quem perdeu tudo, principalmente a dignidade. E este homem que vivia em comunhão com a natureza, torna-se um animal perigoso na selva de pedra. E tudo isso porque temos uma aversão ao fato de sermos bichos, quando na verdade, isso nos torna um com o todo. Quando recuperarmos este entendimento, este será o dia em que nosso desenvolvimento será real, e não mais poderemos ferir a vida por falta de respeito, visto que somos vida.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Hoje é Ariri... (aqui percebi minha primeira grande besteira em minha breve carreira de cineasta amador)

Igrejinha de Ariri
 Ariri é um bairro interessante de Cananéia, distante 3hs por transporte fluvial. Não esperava que esta mínima povoação contasse com uma "lan-house". A inauguração desta ocorreu semana passada. Sorte... Pois daqui vou a Superagui e depois para a Ilha das Peças, cada vez mais isoladas.
     Completei meu primeiro quarto de milheiro de kms!!! Soa bem, mas são só 250. Confesso que os últimos 80 deixaram marcas. Pedalar praias é lindo, mas a areia meio mole é uma dureza!!!

Um quarto de milheiro
     Já no barco vindo de Cananéia travei conhecência com figura ímpar. Conhecido como Velho Ballan, este senhor cheio de estórias do além ofereceu-me de bom grado sua hospitalidade no rancho da pingaiada. Por hora consegui esquivar-me do motivo pelo qual tal rancho é nomeado! Hoje conversaremos sobre o vilarejo fantasma na ilha ao lado, aliás, devo lembrar-me de olhar sua foto às 12 badaladas, pois garantidamente neste horário a igreja do povoado desaparecerá do retrato.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sabotagem...

Navegar, nem sempre é preciso...
Agradável esse ambiente cortado por rios onde venho pedalando há alguns dias desde a Juréia. Continua cinza, mas isso combina com dentro. Não cinza triste, mas algo parecido com sentimento de transição. Apesar de bonito esse trecho de Iguape, Ilha Comprida e Cananéia, é como se a viagem ainda não houvesse realmente começado. Por hora, alguém dentro insiste em sabotar! Joelhos doendo um pouco, sinais de sinuzite e a garganta arranhando. Necessidade de se conquistar através de um dia à dia focado no presente,  o  direito de vivê-lo. (27/09/10)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ontem foi assim... (aka - a mais concentrada aventura da minha vida, talvez!!!)

A primeira subida...
Foi cedo o despertar, não muito. Saí do chalé onde dormira com a esperança de embarcar-me até a Juréia, pulando assim alguns montes, pois meu joelho reclamara. Logo soube impossível, e pus-me a subir o morro. Este quase me mata, mas foi-se. Parei por um tempo na sede da Estação Ecológica da Juréia para as necessárias autorizações. O diretor do parque, Roberto, sujeito de muito boa índole ajudou-me  como pôde. Segui viagem, e logo veio a estrada de terra com bons trechos de lama. O caso é que eu nada sabia então, Sobre os 120 Kg que somos, eu, as malas e Clotilde. Assim penso chamar minha bicle (acho bike muito importado, direi bicle, mas aceito pitacos a respeito do nome Clotilde).

Todos esses quilos logo fizeram quebrar meu bagageiro chinês dianteiro (não pude encontrá-lo de outras nacionalidades!), freando minha bicle bruscamente. Ali aprendi minha lição número um a respeito de pedais que se prendem aos pés: São extremamente contra indicados em casos de lama e terrenos acidentados. Parada a bicle, eu com os pés presos caí um tombo deveras ridículo e nem portanto pouco doloroso. Estava em maus lençóis, não fosse um gentil jovem que vivia por ali arrumar-me um parafuso para repor o roto. Assim fomos, até que a garoa fininha nos visse diante de uma enorme e íngreme subida cascalhada. E assim sofri...

Gambiarras.
Passou de carro então o Enoque, rapaz sorridente que me levaria de barco até o povoado do Prelado. Não saiu de graça a brincadeira, mas desta vez era imperativo o subterfúgio naval pois os morros à frente eram intransponíveis dadas nossas condições físicas, logísticas e morais. Íamos de saída pelo mar quando um alegre e aprazível senhor nos veio com uma idéia bastante lógica. Caso seguíssemos pela intricada malha fluvial da Juréia, chegaríamos a nosso destino em tempo semelhante, mas sem o oneroso inconveniente de enfrentar os domínios de Posseidom em uma mínima lancha. E depois era só pegar uma trilha de fácil acesso e lá estaria o povoado.

O passeio de barco pelos canais da Estação foi delicioso. Lindo era o lugar que me reservava surpresas inimagináveis. Entramos em alguns braços de rio errôneos, mas finalmente acertamos. Agora era só uma questão de ficar de cuecas e atravessar um pântano com as malas nas costas e lama até o joelho. Do outro lado despedi-me de Enoque e apressei-me em montar as bagagens na bicle, pois os raios solares já se faziam escassos. Foi quando percebi que o bagageiro traseiro (talvez até proveniente da mesma região que o dianteiro) também estava quebrado. O tempo de fazer uma gambiarra foi suficiente para afugentar o restante da luz. Viva as lanternas chinesas!!!

Canais da Juréia.
A trilha começou bem, mas assim que o escuro se fez completo começaram os pontos de barro e pequenos riachos lamacentos que me obrigavam a molhar os pés e fazer força para empurrar a bicle. Torcia para que não houvesse muitos mais destes pontos, mas parece que meus votos em nada influenciavam o caminho, pois logo vieram poços de lama de se enterrar até os joelhos com galhos, cipós, arvores caídas, enfim... Foram tombos e quedas de todos os jeitos e hoje vos escrevo bastante dolorido!!! Mas, aquilo havia de acabar era meu pensamento, foi quando caiu-me o parafuso do bagageiro dianteiro, aquele de logo acima no texto. Me consolava o fato de não ter caído novamente devido à lição anteriormente aprendida a respeito de pedais que se prendem aos pés. E que Deus abençoe o momento em que Beto Araújo de Matramba e Silva retirou-me da ignorância a respeito das fitas Hellerman. Por mais uma vez, seus colossais poderes gambiarrísticos me haviam salvado!!! No total, aquela inocente trilha de que me havia falado aquele agradável senhor impedindo-me de desembarcar por mar diretamente no povoado, resultou em duas horas de lama e hematomas no breu de uma noite que ainda havia de ver uma linda lua. Cuidado com os agradáveis senhores eu vos digo!

Grande Reginaldo!
O fato é que cheguei. Alquebrado e lamacento, parei em uma casa para me informar à respeito de como chegar ao mar para acampar-me. A amigável pessoa que me atendeu demonstrou-se mui hospitaleira, cedendo-me uma parcela de seu gramado, um chuveiro quente, comida e uma boa dose de calor humano junto à seus colegas e familiares. Dormi cedo e acordei cansado, mas mais pronto que nunca para continuar...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cinzas no Início...

Eu e o Gangá!!!
Começando vou soar pessimista... Nada foi como o imaginado, bem por isso falei que não gosto de planos, só servem pra não dar certo!!! Era bem cedo pra descer a estrada velha de Santos. Nablina, muita neblina... Variava com garoa. Nem por isso desmereço os companheiros presentes. O bom e velho Vinícios Vasconcelos, vulgo Gangá, teve a manha de madrugar no domingo 19 para levar-me ao início. Lá fiz encontro com o Matramba Special Time composto por Beto Araújo, Renato Bastos, João Fonseca e Fabio Galhardo. Descemos juntos, não sem momentos hilários e não comentáveis por força ética, até a baixada Santista de onde o MST voltou rumo à SPlônia.

Com a turma da Matramba
Dei continuidade no dia seguinte, e por favor, deixem-me retornar ao tom soturno e negativista do início, pois em pouco mais de dois dias, peguei garoas, chuvas torrenciais, nuvens a perder de vista, me foi subtraído o aparelho telefônico, furou-me o pneu por três desagradáveis vezes, quebrou-me o bagageiro dianteiro provocando parada assaz abrusca que por pouco não me fez catapultar o esqueleto por metros consecutivos, fui posto a dormir nos aposentos de um indivíduo de temperamento desgovernado, enfim, era de se esperar que já estivesse preparando meu caminho de volta...

Uma carregada clotilde
Mas, nem sei se por teimosia, convicção ou simples tipo de lentidão mental, resigno-me a ter fé. Fé em dias melhores à frente, e outros quiçá piores também. Fé em que ao pesar tudo na balança do século, sempre há de ter valido à pena.


É como uma lembrança de que mesmo ao ser mais afeiçoado às cores vibrantes, o cinza também existe. E por esse apenas motivo, já é lindo, visto que é...

Com isto dito solto o brado glorioso que invoca e aceita a primavera, no mundo e na alma!!!