sábado, 26 de maio de 2012

Chiloé e minha primeira experiência com CouchSurfing


Saída porto de Chaitén
Chegando a Puerto Montt, decidi averiguar possibilidades de hospedar-me com algum membro da comunidade de CouchSurfing. Já fazia mais de um ano que me havia inscrito no site dessa parada, mas tanto por evitar cidades quanto pela imprevisibilidade de datas inerente ao meu biclear (detesto o termo cicloturismo!), nunca o havia utilizado. Decidi tentar.

Barco a Chiloé
Do porto da cidade enviei mensagem a todos os provedores de sofá inscritos na ilha de Chiloé e abriguei-me em um hostel. Para minha surpresa, no dia seguinte já havia resposta positiva de uma certa Angélica Alarcón a quem muito agradara este blogue. Larguei pedal a Pargua, de onde zarpam naus para as terras insulares. Para minha desagradável surpresa, a rota é muito mais empregada que poderia imaginar, e principalmente por ruidosos veículos de grande porte.

Eu e Reuben
Acampei uma primeira noite atrás da igreja de Cachao, seguindo o conselho de algumas divertidas vendedoras de empanada que encontrei na estrada. Apareceu um ciclista tcheco/francês de quem me escapou o nome (Reuben, lembrei!). Juntos cozinhamos e trocamos boas estórias de viagem, pois ele também havia vindo por Futaleufú. Durante os dois dias seguintes pedalei os cento e poucos km que me separavam de Castro.

Igreja de tejuelas caminho a Castro
Em um bloqueio na estrada, uma alegre condutora interpelou-me do outro lado da via. Parei e nos pusemos a charlar. Ao saber minha nacionalidade ela pode exercitar toda contente o gringuismo clássico: “Brasiuu, eu fala portugueis!” E me disse que em Castro me hospedasse em um Hostel chamado Sempre Verde, onde trabalhava sua amiga Pati. Consultei meus e-mails na entrada da cidade e vi que para Angélica seria melhor que eu chegasse domingo, assim fui ao dito albergue por dois dias.

Lito
O lugar era bem simples, mas muito agradável devido a mui bonitas pinturas e rústicos artefatos decorativos por todos lados. Um ambiente criativo. Fui recebido pela simpática Patrícia que em algo lembrava minha mãe, algo meio bruxa gentil. Derreti na cama por quase 24hs, e domingo ao levantar, Lito, o dono do lugar convidou-me a conhecer o mercado público da cidade. Fiquei maravilhado com quantidades de coisas sobre as quais jamais havia deitado olhos. Batatas azuis, algas e mariscos de muitas formas e cores, frutas e legumes exóticos, ervas, queijos...

Eu e Angélica
Compramos e voltamos ao albergue cozinhar um Curanto (Prato típico local onde tradicionalmente se cozinha porco defumado com mariscos e legumes em um brasieiro enterrado, que em sua versão moderna sobe ao fogão mas ganha um bom gole de vinho branco na cocção). Foi a coisa mais deliciosa que comi em tempos! Feliz e agradecido despedi-me e mudei-me para a casa de Angélica.

Maricos e papas azuis!
Ela me recebeu muito bem, conversamos bastante, tomamos once (lanche da noite que substitui o jantar) e instalei-me em um pequenino e aconchegante quartinho. O tempo mudou e vieram vários dias de chuva, o que prolongou minha visita a Angélica. Mas não posso me queixar, pois foram dias muito agradáveis onde conversamos muito, escrevi bastante, organizei meu mundo virtual, usei Skype, enfim, vivi por 12 dias uma vidinha abrigada que não posso dizer que não fazia falta com chuva e frio.

Vista da casa de Angélica
Saímos algumas vezes, cozinhamos, com menção especial para um cozido de mariscos ao vinho branco (dejá vu?) acompanhado de umas batatinhas azuis e umas outras daí que vou buscar o nome, mas que tem forma de gengibre e gosto quase idêntico ao de alcachofras (simplesmente deliciosas!). Também tivemos conversas bastante enriquecedoras que me permitiram clarear muita coisa à respeito do que venho absorvendo com esta viagem. Pó deixa que isso tudo vira texto em breve, já venho cutucando o miolo.

Nesse tempo, chegamos a desenvolver uma rotina bastante amigável. Escrevo estas linhas cheio de uma profunda gratidão pela qualidade amigável e hospitaleira de minha anfitriã. Fui-me sem tanto conhecer das belezas naturais de Chiloé, parte por condições climáticas e parte pela agradável sensação de estar abrigado que me fez ermitar um pouco. Mas parti com o coração quentinho e o conjunto pança/palato contentíssimos. Obrigado Angélica.

sábado, 19 de maio de 2012

Alguns dias no Chile

Rio perto de Futaleufú (clique na imagem para slideshow)
Lembrando o que disse no post comparando, depois de passar por Futaleufú, ficou a sensação de haver passado pelo lugar mais bonito do mundo... Creio que ainda mais no outono, quando o alto das montanhas que não estão cobertas de neve está todo vermelho e tantas árvores já estão vestidas de amarelo. Além disso, a qualidade da luz outonal deixa tudo em terra mais suave, enquanto lagos rios e céus abusam de azuis e verdes.

Lago Lonconao

E minha passagem por aí foi muito sincrônica, pois foi de puro sol num lugar onde chove pra cacete! Os amigos ciclistas que encontrei no caminho oposto vinham todos reclamando da pluviosidade local. Um deles até contou-me que acampou a uns cinco metros da orla de um rio e acordou literalmente boiando sobre seu colchão inflável, pois havia algo como dez centímetros de água dentro da barraca. A beleza natural e esta qualidade estiada desses dias provocaram-me uma espécie de êxtase e gratidão que havia muito não experimentava.

Mas fez frio. Lembro dois dias em que acordei com a barraca dura, toda branca com uma grossa capa de gelo que mimetizava o entorno. Fiquei feliz em saber que o conjunto roupas e saco de dormir me são suficientes. Muitos me disseram que dormir sem roupa era melhor para armazenar o calor produzido pelo corpo, mas testei e congelei... Meu saco de dormir não banca abaixo de zero. Mas o pior fica por conta de sair de dentro dele!!! Pela manhã, o sol tarda bastante a trabalhar de forma mais efetiva. Isso faz com que as tarefas básicas de levantar, preparar algo para comer e desarmar o acampamento tornem-se bem dolorosas.

Tejuelas II
Algo que me chamou atenção nestas paragens, foi a forma de cumprimentar empregada por alguns dos poucos motoristas com quem cruzei caminho. Um jeito de apontar o indicador para cima de tal forma que me foi impossível deixar de associa-lo com nosso gesto mímico que diz : Por favor, me vê uma gelada! E sorria sozinho devido à  esdruxula associação.



Tejuelas II
Também muito bacana o como construir desta região chilena. Já tenho em mim um gosto por casinhas de madeira bem simples de um só pavimento. Creio que por associações de infância este tipo singelo de morada sempre me agradou. E as daqui, além destas características, tem o charme adicional das tejuelas. Um tipo de telha de madeira que aqui se usa para fechar as paredes da casa. Elas existem em desenhos muito diversos e provocam uma agradável sensação visual vestindo as moradas com seus intricados padrões geométricos. Além disso, chilenos tendem abusar no colorido, o que as deixa ainda mais alegres.

Também posso dizer que ao menos por hora, o povo me parece muito agradável. Apesar de um algo meio rançoso que ainda não sei bem definir, mas que seguramente sobrou dos anos militares (nacionalismo exacerbado, bandeiras pra todo lado, valor dado às festas nacionais, militares cheios de si e moedas com a insígnia que diz: Pela razão, ou pela força!), grande parte das pessoas com quem tive a oportunidade de charlar são muito simpáticas, alegres, piadistas e fraternas.

Em Puerto Montt saí em busca de uma capa de chuva em lojas de roupa de segunda mão (uma febre nacional chamada “Roupa Americana”, este tipo de comercio está em cada esquina). Depois de um pouco de conversa muito alegre, ganhei de presente uma ótima capa que hoje me salvou de ensopar-me! Em outra ocasião, pedi água a um rapaz que vivia beirando a estrada, ele voltou com a água e um vidrinho de murtas (uma frutinha daqui) em conserva caseira. Já fui convidado a comer e a beber depois de bem pouca conversa na rua, e em Chiloé passei quase duas semanas na casa da Angélica, mas isso conto melhor no próximo post, pois foi minha primeira experiência com CouchSurf, e acho que vale a pena comentar.

No caminho a Antuco
Pra exemplificar ainda mais, falo um pouco do lugar onde escrevo. Um restaurantezinho no caminho de Los Angeles a Antuco que me haviam informado prover hospedagem. A coisa tá meio bagunçada, pois estão começando a reformar para o próximo verão, visto que agora já não vem muitos hóspedes. Mas, me saiu barato dormir em meio a um certo quilombo (castelhano para dizer zona! meio preconceituoso, mas muito usado) e tomar um sofrido banho gelado. Mas o jovem Henrique, filho da proprietária, é extremamente atencioso. 

Perto de Yungay
Primeiro me ofereceu um copão de vinho, que aceitei muito grato. Depois me trouxe água quente pra que eu tomasse uns mates e fez fogo em uma fornalhinha, apesar de não estar assim tão frio. Por ultimo agora enquanto escrevia, me trouxe um prato de uma comida deliciosa que comiam festejando o dia das mães (10 de maio aqui), e mais um copinho de vinho! Raro, não?




Yungay II
Mas apesar de todos estes mimos, tenho que sair logo daqui. O Chile é muito caro para meu atual orçamento. Pra onde sigo depois, norte da Argentina, escutei ser bem mais barato. Mas por esse e outros quesitos, me vejo ansioso por pelo tramo Bolívia-Peru-Equador. Daqui até lá, umas boas pedaladas, algumas caronas e muitos amigos pra visitar. Por aqui nos vamos vendo meus companheiros de jornada. Forte abraço e até breve.


domingo, 13 de maio de 2012

O viajar e outras cositas mas... (esse tá bem grande!)


Travessia dos Pirineus (Caminho de Santiago - 2005)
Hoje quero falar com vcs sobre viagens, ou melhor, sobre as possíveis maneiras de se encarar o assunto. Acho que essa ficha só me foi cair após uma viagem que fiz em 2005 (não sei se já falei sobre isso, pode ser...). Atravessei a França de bicle, do sul da Alsácia até St Jean Pied de Port nos Pirineus, perto do Atlântico. Dei uma volta pelo País Basco Francês e Espanhol, mandei Clotilde (Já era ela!) de St Sebastian para Santiago de Compostela, Voltei à St Jean PP e caminhei até Santiago pelo chamado Caminho Francês, aquele do Paulo Coelho! Foram 1500 km pedalando e 990 caminhando ao longo de três meses e meio. Desde aqueles tempos e mesmo antes, já se falava que o Caminho perdeu sua alma por conta da invasão de turistas. Sim, eles estão lá. Há inclusive pessoa que caminham somente os últimos 100 km para receber o carimbo que comprova o feito. Não vou entrar em detalhes, pois o post não é sobre isso. Mas na humilde opinião de alguém que não sabe como foi antes, independentemente de toda e qualquer possibilidade de se denegrir seu valor, essa caminhada é do caralho!!! E muda muita coisa por dentro...


Caminhando
Depois disso, viagens turísticas me pareceram perder o sentido. O que fazia antes, visitar cidades ou locais de natureza exuberante, descobrir os pontos de interesse comum, museus, praças históricas, restaurantes, bares, cachoeiras, montanhas, etc... e tentar cumpri-los como uma espécie de cronograma básico obrigatório tipo marcar X em uma tabela, ficou para trás. Acho até que me diverti fazendo isso, mas parece que sempre me ia destes lugares assim visitados com a alma um pouquinho dolorida. Talvez com saudade de realidades mais profundas destes lugares que me passaram despercebidas, como se estivessem em uma dimensão paralela. Creio que estavam, assim, alheias ao estilo de viagem tão comum a quem está inserido em sociedades de consumo.

Será mesmo necessário um guia?
A meu favor tenho a dizer que nunca tive um guia de viagem na vida. Peço perdão aos fãs deste objeto que vejo não somente como um peso morto na mochila, mas também como algo que nos transforma em uma espécie de gado turístico, andando sempre sobre as mesmas trilhas batidas. Também brinco com o título Lonely Planet como sendo tudo o que alguém precisa fazer para realizar uma viagem solitária, pois as chances que se poderia ter de contato para perguntar informações, e que amiúde se transformam em conversas interessantes e/ou divertidas, são deixadas de lado para se enfiar a cara em alguma destas bíblias mochileiras.

Outrossim, sempre tive gosto por perder-me. Nunca tive tempo de ir a todos os lugares “necessários” pois “gastava” muito deste perdido, vadiando e vidiando por vielas ou sendeiros. Também nunca fui dado a pacotes, fora em uma única ocasião de uma semana em Kefalônia no Mediterrâneo Adriático, mas ainda assim alugamos um carro e percorremos bastante a ilha. Mas, apesar de estar sempre fugindo de esquemas massificados de viagem, sem perceber terminava cumprindo com o roteiro, ou ao menos algo do estilo...

Viajante solto...
aí vc vai dizer:  - Então o cara quer que todos larguem tudo e saiam sem lenço e sem documento mundo a fora? Calma, não é bem isso... Apesar de tê-lo feito um pouco, minha intenção não é bem a de jogar merda no seu ar condicionado turístico. É mais uma vontade de semear uma transformação progressiva na forma de encarar o ato de viajar. Até por que, tá cheio de gente inclusive entre vcs que agora leem, fazendo viagens de maneira muito mais solta que a minha, e eu também, conforme vou viajando vou percebendo e deixando para trás hábitos que travam um pouco minha experiência, ainda que alguns deles sejam duros de jogar pela janela.

Quando digo travam, me refiro à confiança no universo, à busca de sincronia através do progressivo alimentar de nossa intuição. Por exemplo, a cada manhã quando começo a pedalar, não olho o mapa e decido onde vou dormir, nem se vai ser em uma pensão, em um camping, beirando um rio, sob uma ponte, ou onde for. Simplesmente vou, em parte por saber que está tudo bem, e em parte por estar treinando essa confiança. Pode parecer falta de planejamento, e é, mas voluntária e desejada.


Minha primeira dormida literalmente embaixo da ponte...
Logicamente, viagens mais longas tendem a ser mais efetivas nesse tipo de caminhada. Mas creio que se mudamos o foco, sempre se pode buscar mais alma em qualquer tipo de viagem. Planejando menos, e deixando mais espaço para o incerto, que sempre pode nos trazer maravilhas inesperadas. Mas também escolhendo conscientemente o confiar ao invés do duvidar. Intuir em vez de planejar. Escutar mais o coração e um pouco menos à razão.


É um processo meio longo e por vezes árduo, pois não estando habituados, isso a que chamamos intuição parece algo sem sentido, ilógico. E é, ao menos dentro da lógica quadrada que nosso tipo de sociedade demanda de suas engrenagens. Batemos cabeça por duvidar, e na tentativa de acreditar, mas sem ainda haver conquistado aquela fé interna que realmente sabe que tudo está sempre bem, uma pequena dúvida escondida põe tudo a perder.
Mas não interessa, pois desistir aí e entregar-se a uma vida totalmente formatada pela rasa razão, seria como se uma criança decidisse engatinhar para sempre por medo de outros tombos no processo de aprender a andar, e depois correr, e depois voar. Busquemos viajar com menos plano. Com mais espaço à sincronia, aos encontros fortuitos, ao perder-se para encontrar o que há de mais belo, no outro e em nós mesmos. Que a informação sobre os lugares mais lindos, a comida mais rica, a história e as estórias venham da pesquisa de campo, do ombro a ombro e do olho no olho que esquenta o coração.

Eu não estou falando isso pra vc. Estou tirando isso de dentro pra nos lembrar a todos. Talvez eu seja um dos que mais precisa escutar, pois são coisas fáceis de se esquecer, assim como é fácil esquecer o momento atual em troca de algum devaneio no antes ou no depois. Tem esta frase, que se já falei repito, porque gosto muito e porque tenho a memória curta, mas também porque é das que vale repetir:

Se queres fazer com que Deus sorria, conta-lhe teus planos... 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Encontros pela estrada


Meio por aí encontrei o Max...
Não foram tantos por hora, nem muito longos e tampouco fiz ideia  fotografá-los. E ainda assim deixaram-me uns algos que creio valer a prosa. Primeiro foi o Max, dos Estados Unidos.


Encontramos entre Bolsón e Epuyen. Ele já estava pedalando há uns cinco meses, tinha ido até Ushuaia e estava voltando. Um cara extremamente gente boa, tanto que lhe indiquei que fosse ao Valle Pintado conhecer a galera. Ontem falando com um amigo, fui contar a ele que iria fazer um segundo retiro de meditação Vipassana perto de Santiago, e ele me disse:
- O Max passou por aqui e contou pra gente. E eu pensei, quem caralho é o Max?!!! Já tinha esquecido total o nome do figura, mas conversando mais lembrei, e fiquei feliz por ele ter ido pra lá...

Amerika en Kombi!!!
Depois foi um casal muito bacana, Martin e Martina. Saindo do parque dos Alerces vidiei uma Kombi vermelha parada na beira de um lago. Quem me conhece sabe da minha queda/paixão por este veículo, ainda que esta fosse das um pouco mais novas, pois meu lance mesmo é com as de 76 pra trás! Logicamente baixei ver qual era. E não é que os figuras estavam voltando de 3 anos de viagem por toda américa latina?!!! Conversamos bastante, jantamos juntos (dentro da Kombi!!!), acampei ao lado e recebi toques sobre países por onde pretendo passar. Eles inclusive estiveram na vilinha onde vive um dos meus maiores ídolos atuais chamado Walter Ferguson. Cantor de Calypso de 93 anos a quem me encantaria conhecer. Disseram-me que me apressasse, pois o vozinho tá meio baleado... ( Quem quiser dar uma olhada o blog deles é http://amerikaenkombi.blogspot.com/ )

Nessas paragens estava o Sebastian
Aí, passando Trevelin trombei um belga chamado Sebastian. Eu estava todo estropiado porque resolvi apanhar umas maçãs em uma arvore toda rodeada de espinhos. Ofereci uma a ele e começamos a charlar. Ele também tinha baixado de bicle de Buenos Aires a Ushuaia, lá ficou por dois meses, e agora vinha subindo. Falamos sobre altas paradas até que nossa conversa foi pra um lado assim, Sebastian disse:

- Difícil que alguém nos queira fazer mal, nos roube ou algo assim. Acho que as pessoas de maneira geral empatizam com o ciclista viajante de maneira simples. Talvez pelo esforço, pelo desapego ou pela coragem... Aí eu fui brasileiro:

- Ou talvez por pensar, nossa, esse tá tão fodido que não vou roubar o cara!!! Carma ruim ferrar alguém que já tá sofrendo tanto! Rimos bastante e nos despedimos alegres e pedalantes.

Logo depois encontrei o Ike, homem norte americano de menos palavras e segundo si mesmo, de aptidões mecânicas. Também vinha pedalando de Ushuaia (Parece que só tem eu na contra-mão!). Não falamos muito, mas suficiente pra cutucar uma coisa que me disseram recentemente. Que nos Estados Unidos, dependendo da época, se pode comprar um bom motor home com 2.000 dólares. Puta trip rodar a gringolândia assim!!! Tenho que lembrar que ele avisou pra ficar longe dos Chevrolets Diesel.

Rio Grande, onde conheci o François

Mais recente foi o François e de maneira bastante inusitada. Quando cheguei a 2 km da fronteira com o Chile cruzei um rio espetacular, o Rio Grande. Havia um camping ao lado que já estava desativado devido à época. Decidi dormir debaixo de uma grande varanda para não ter de armar a barraca. Tomei umas cuias de mate e ao cair da noite comecei a cozinhar. Um dos motivos de haver parado ali foi porque me contaram que certos produtos como laticínios, legumes e frutas frescas não podem passar pela fronteira. Nisso apareceu o cara, um francês que já levava 10 meses viajando por todo lado de mochila e carona. Havia comprado uma dessas passagens de volta ao mundo e falava de lugares incríveis e incomuns. Ele me prometeu os contatos de uma tribo na Nova Caledônia que me pareceu muito interessante. Fizemos um guizado à noite e panquecas de banana pela manhã pra queimar meu estoque de comida ilegal, e fomos nós um pra cada lado.

Apesar de sua efemeridade, esses breves contatos com essa gente do mundo ajudam muito, ainda mais quando o frio aumenta e as chances de estar em companhia de habitantes locais diminuem bastante. Obrigado amigos da estrada por estes sorrisos, abraços e estórias. Bons ventos os levem, preferencialmente pelas costas, pois os de frente são barra!