sábado, 20 de novembro de 2010

Será esse o meu fim?

Vez por outra, pessoa que sou, me pego pensando a respeito do que quero, sou, faço, mais comos e porquês. Sempre fica meio vago, mas pintam algumas conclusões também. Por sorte, as deixo livres para se reconcluirem caso assim desejem. Por sorte compreenda-se a lenta desistência de uns vários graus de teimosia braba.

Exemplo pratico e o pedalar. Os praticantes do esporte que encontro sempre me perguntam sobre as marcas disso ou daquilo, o funcionamento daquele outro trubisco, que roupas uso, as rotinas e os cuidados. Acabo sempre ficando meio sem resposta, assim, tipo amador em demasia, perto da vergonha de não saber tudo isso. A simples exposição de meu ponto de vista aqui pode desagradar alguns de vcs, mas ainda assim, acho que vale como exercício de proposição de idéias. Pedalar para mim e um simples meio.
Por mais agradável e saudável que seja, o ato em si de propulcionar minha bicle nunca chega a ser fim. Vejo como fins os lugares aonde chego e por onde passo vagarosamente nos quais me permito parar livremente. Ou o estado meditativo provocado pelo esforco físico repetitivo aliado as belas paisagens e uma suave brisa ou garoa.

Para mim, o momento em que o pedalar se torna um fim em si mesmo, é paradoxalmente quando este ato se desencontra de sua essência. A partir daí começam as preocupações com marcas de bicicletas, equipamentos, acessórios fru fru, vestimentas especializadas e hi tech, e toda sorte de coisas que se terminam em lenha acendendo a fogueira das vaidades. E então o que importa são quantos quilômetros se pode fazer em um mínimo de tempo, e quem é o mais veloz e musculoso, e quem tem grana pra comprar tal ou qual bike... Isso pra mim não interessa. Eu quero brincar de pedalar.
Tudo isso pra dizer de maneira bem seria, que eu acho que nós deveríamos todos brincar de viver. Esportes já foram um meio para se divertir. Desde que se tornaram fins, saiu a diversão e entrou a competição. Pra se divertir mesmo agora, há necessidade de um perdedor, que alguém se sinta mal. Fico na turma do frescobol, porque se alguém fica mal, eu também fico mal, não contente.

E no fim isso serve pra qualquer coisa. Acho que precisamos sempre estar atentos para perceber claramente em nossas vidas o que são ferramentas ou caminhos para se conseguir algo, e o que é a essência do que buscamos. Senão pessoas se tornam robôs, diversão vira guerra, vestimentas, apetrechos e outros tarecos acabam por definir quem somos. E assim terminamos por nos tornar escravos do que possuímos e desejamos. Como se mapas fossem territórios, e não representações. 
 
Tem essa frase, nem sei de quem, que pra mim ilustra bem a confusão entre meios e fins. Ela diz:

Se as pessoas são feitas para se amar, e o dinheiro e feito para se usar,
Porque que  que se estão usando as pessoas e amando o dinheiro?

sábado, 13 de novembro de 2010

Eles sempre dizem que não dá...

Por aí não dá!!!
 É engraçado pensar no número de coisas que não faríamos se acreditássemos em tudo o que dizem. Eu tenho aqui comigo essa quase mania de gostar de perguntar. Não sei bem porque, mas nunca fui muito chegado a guias de viagem. Sei que eles tem um monte de informações interessantes e alguns toques por vezes muito práticos. Mas acho que é porque eles acabam sendo mais uma maneira de provocar o isolamento. Já tenho uma certa timidez natural, e acredito que caso eu carregasse um guia, acabaria perdendo preciosas chances de contato com as pessoas.

Tranquilo né?!!!
Então eu vou perguntando tudo. Qual caminho tomar, como fazer, onde comer... Acho que isso torna a viagem mais rica, pois estarei fazendo escolhas baseadas na experiência das pessoas que vivem ali. Além disso, esta busca de informações resulta frequentemente em conversas inesperadas e muitas vezes bem divertidas. Mas, alguns cuidados devem ser tomados com esta forma de se informar. Filtrar é essencial, pois a negação é uma constante. Não sei bem o que provoca este tipo de pessimismo que brota da frequente ignorância geográfica dos interpelados. Quando as pessoas não sabem se um caminho é viável ou não, é quase seguro que vc vai ouvir que é impossível, e por vezes até com os ilusórios detalhes impossibilitantes!

Desnecessário dizer que o contrário também acontece. Então aquela trilhinha tranquila que o tiozinho explicou sorrindo torna-se um pesadelo de lama até o joelho e mosquitos à noite no mato!!! Então vamos assim, ouvindo sempre, mas deixando pra acreditar só de vez em quando, porque se eu fosse acreditar no que falam, nunca teria começado essa viagem...

sábado, 6 de novembro de 2010

Leve Sensação...

Alta noite já se ia. Escuro fazia na barraca quando me dei conta do ocorrendo. Uma boa sensação percorria-me o corpo durante aqueles momentos em que me senti mais leve que o ar. Totalmente livre dos grilhões gravitacionais de nosso pequenino planeta, voava. Já não fazia sentido aquele sentimento de inveja aos pássaros, que chegava a questionar a própria ordem do todo.

Mas como isso se dera, era a questão que me assombrava. Minha mente entrou em um estado de êxtase e atenção total. Os pensamentos começaram a se voltar para o início da jornada, como que visando explicar-me o que então sucedia. Vi-me ali, beirando o mar, olhos semi-cerrados e o corpo na típica posição de quem anseia meditar, o que já é por si só um contra senso. Anseio e meditação são como água e óleo, ou melhor dizendo, doença e cura... Mas mesmo estas tentativas de busca pelo estado meditatório sempre conferem certa leveza ao espírito e consequentemente ao corpo. Nunca ouvi falar porém sobre pessoas em estado de iniciação meditatória alcançando tão prontamente as delícias da levitação. 

Veio então outra possível explicação àquele inusitado fato. O esforço físico proporcionado pelo constante pedalar, aliado à visão frequente de belíssimas paisagens, forçosamente haveria de ter amplificado minhas capacidades de contato com a energia cósmica e consequentemente despertado habilidades humanas normais, porém usualmente dormentes. Mas ainda assim, aquilo me parecia muita aquisição de mestria energética em tão poucas semanas de viagem.

Finalmente viera-me ao pensar aquilo que bem poderia ser o motivo. Vinha eu me alimentando recentemente de forma um pouco exagerada, procurando sanar uma possível falta de proteínas em meu organismo que poderia decorrer de um grande esforço físico sem a ingestão de uma correta quantidade destas moléculas essenciais. Tendo a não comer os bichinhos que vivem, fazendo exceção aos que nadam. Por este motivo, durante a viagem, capricho na deglutição de ovos, queijos, leite, feijões, lentilhas, grãos de bico, e tudo mais que contenha alto teor protéico. E, bem se sabe, que estes alimentos uma vez digeridos produzem alto teor de gases mais leves que a média dos encontrados ao nosso redor.

Ali caiu-me a ficha, lembrei de um almoço horas atrás onde esta característica alimentação se havia unido sinergéticamente à um pouco de chucrute e couve flor. Só então fiz atinar ao desagradável odor que preenchia minha leve habitação e que nos propulcionava levemente cada vez mais ao alto. 
Sorri, lembrando-me o quão normal é, 
que toda maravilha seja permeada de ônus.