sábado, 19 de maio de 2012

Alguns dias no Chile

Rio perto de Futaleufú (clique na imagem para slideshow)
Lembrando o que disse no post comparando, depois de passar por Futaleufú, ficou a sensação de haver passado pelo lugar mais bonito do mundo... Creio que ainda mais no outono, quando o alto das montanhas que não estão cobertas de neve está todo vermelho e tantas árvores já estão vestidas de amarelo. Além disso, a qualidade da luz outonal deixa tudo em terra mais suave, enquanto lagos rios e céus abusam de azuis e verdes.

Lago Lonconao

E minha passagem por aí foi muito sincrônica, pois foi de puro sol num lugar onde chove pra cacete! Os amigos ciclistas que encontrei no caminho oposto vinham todos reclamando da pluviosidade local. Um deles até contou-me que acampou a uns cinco metros da orla de um rio e acordou literalmente boiando sobre seu colchão inflável, pois havia algo como dez centímetros de água dentro da barraca. A beleza natural e esta qualidade estiada desses dias provocaram-me uma espécie de êxtase e gratidão que havia muito não experimentava.

Mas fez frio. Lembro dois dias em que acordei com a barraca dura, toda branca com uma grossa capa de gelo que mimetizava o entorno. Fiquei feliz em saber que o conjunto roupas e saco de dormir me são suficientes. Muitos me disseram que dormir sem roupa era melhor para armazenar o calor produzido pelo corpo, mas testei e congelei... Meu saco de dormir não banca abaixo de zero. Mas o pior fica por conta de sair de dentro dele!!! Pela manhã, o sol tarda bastante a trabalhar de forma mais efetiva. Isso faz com que as tarefas básicas de levantar, preparar algo para comer e desarmar o acampamento tornem-se bem dolorosas.

Tejuelas II
Algo que me chamou atenção nestas paragens, foi a forma de cumprimentar empregada por alguns dos poucos motoristas com quem cruzei caminho. Um jeito de apontar o indicador para cima de tal forma que me foi impossível deixar de associa-lo com nosso gesto mímico que diz : Por favor, me vê uma gelada! E sorria sozinho devido à  esdruxula associação.



Tejuelas II
Também muito bacana o como construir desta região chilena. Já tenho em mim um gosto por casinhas de madeira bem simples de um só pavimento. Creio que por associações de infância este tipo singelo de morada sempre me agradou. E as daqui, além destas características, tem o charme adicional das tejuelas. Um tipo de telha de madeira que aqui se usa para fechar as paredes da casa. Elas existem em desenhos muito diversos e provocam uma agradável sensação visual vestindo as moradas com seus intricados padrões geométricos. Além disso, chilenos tendem abusar no colorido, o que as deixa ainda mais alegres.

Também posso dizer que ao menos por hora, o povo me parece muito agradável. Apesar de um algo meio rançoso que ainda não sei bem definir, mas que seguramente sobrou dos anos militares (nacionalismo exacerbado, bandeiras pra todo lado, valor dado às festas nacionais, militares cheios de si e moedas com a insígnia que diz: Pela razão, ou pela força!), grande parte das pessoas com quem tive a oportunidade de charlar são muito simpáticas, alegres, piadistas e fraternas.

Em Puerto Montt saí em busca de uma capa de chuva em lojas de roupa de segunda mão (uma febre nacional chamada “Roupa Americana”, este tipo de comercio está em cada esquina). Depois de um pouco de conversa muito alegre, ganhei de presente uma ótima capa que hoje me salvou de ensopar-me! Em outra ocasião, pedi água a um rapaz que vivia beirando a estrada, ele voltou com a água e um vidrinho de murtas (uma frutinha daqui) em conserva caseira. Já fui convidado a comer e a beber depois de bem pouca conversa na rua, e em Chiloé passei quase duas semanas na casa da Angélica, mas isso conto melhor no próximo post, pois foi minha primeira experiência com CouchSurf, e acho que vale a pena comentar.

No caminho a Antuco
Pra exemplificar ainda mais, falo um pouco do lugar onde escrevo. Um restaurantezinho no caminho de Los Angeles a Antuco que me haviam informado prover hospedagem. A coisa tá meio bagunçada, pois estão começando a reformar para o próximo verão, visto que agora já não vem muitos hóspedes. Mas, me saiu barato dormir em meio a um certo quilombo (castelhano para dizer zona! meio preconceituoso, mas muito usado) e tomar um sofrido banho gelado. Mas o jovem Henrique, filho da proprietária, é extremamente atencioso. 

Perto de Yungay
Primeiro me ofereceu um copão de vinho, que aceitei muito grato. Depois me trouxe água quente pra que eu tomasse uns mates e fez fogo em uma fornalhinha, apesar de não estar assim tão frio. Por ultimo agora enquanto escrevia, me trouxe um prato de uma comida deliciosa que comiam festejando o dia das mães (10 de maio aqui), e mais um copinho de vinho! Raro, não?




Yungay II
Mas apesar de todos estes mimos, tenho que sair logo daqui. O Chile é muito caro para meu atual orçamento. Pra onde sigo depois, norte da Argentina, escutei ser bem mais barato. Mas por esse e outros quesitos, me vejo ansioso por pelo tramo Bolívia-Peru-Equador. Daqui até lá, umas boas pedaladas, algumas caronas e muitos amigos pra visitar. Por aqui nos vamos vendo meus companheiros de jornada. Forte abraço e até breve.


2 comentários:

  1. do jeito que você conta, tudo parece belo...
    bom caminho!

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  2. ô pessoa que ilumina por onde passa! Fico daqui...torcendo pro próximo post não demorar...Bjs e Abraço p esquentar...Popó

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