quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Querida erva daninha

Planta em banhado no lugar de acostamento
Percebo agora que venho me indagando de forma inconsciente e há algum tempo sobre os diferenciais de se pedalar em uma grande estrada ou em uma pequenina senda de terra batida ou areia. Muitos são bastante óbvios. Nas grandes estradas, o barulho e o deslocamento de ar de caminhões é desagradável e até mesmo perigoso, também é mais difícil encontrar por ali aquelas pessoas, habitações e utensílios autênticos e interessantes que se pode vidiar nas entranhas da superfície. Por outro lado, se o acostamento for de bom calço, se pode avançar muitas léguas em um curto espaço de tempo. Mas algo que ontem me chamou a atenção de forma peculiar foi fato que não costuma sucitar grande interesse, mas que pareceu-me porém crucial nesse então. O corte de cabelo das beiras de estradas. 
 
Capim de prata
Entendo que deixar um mato alto nestas margens possa causar certo desconforto aos motoristas quando param, inclusive por necessidades fisiológicas inadiáveis, ou ainda danos às pistas por acúmulo de terra e consequente enraizamento de plantas, e até perigo à vizibilidade nas curvas. Mas reside aí algo que modifica profundamente o experiênciar de uma viagem em baixa velocidade. Geralmente, nas estradas secundárias, acessos de praias e caminhos rurais, subsiste uma forma singeloexuberante de companheiros de estrada, composta de profusão de matinhos, capins, sementes que voam, florzinhas miúdas multicolores, brotos de samambaias de tipos variados, pendões, espinhos, carrapichos e toda sorte de ervas daninhas que se possa imaginar.
Fulozinha roxeada
Quando morei no Goiás, tão logo entrassem em minha casa os habitantes locais traiam caladamente com os olhos sua necessidade de discrição à respeito da casa alheia. Nada falavam, mas seus olhares passeavam pelos vasos enquanto suas mentes se indagavam sobre que tipo de doido cultivava ervas daninhas dentro de casa, quando já era suficientemente árduo removê-las de seus quintais. Sempre gostei delas, não sei se era porque ninguém gostava ou porque sempre percebi que são lindas. Isso ainda foi crescendo em mim e foi imensamente reforçado quando soube que um artista famoso havia feito exposição em Paris de jardins compostos de "mauxherbes". Depois fui aprender com a permacultura que estas plantas tão resistentes, não só nos indicam carências e desgastes sofridos pelo solo, inclusive apontando os minerais necessários para sua correção, como tendem à recuperá-los elas mesmas, logicamente, ao longo de muitos anos. 
 
Campos oníricos
Hoje creio-me um daninhólogo amador. sem qualquer conhecimento formal, mas com grande amor pelas ervas ditas daninhas. Tenho vasta coleção de exemplares fotografados e adoro que estejam a meu lado ao longo do caminho para que possa admirá-las enquanto sorriem para mim. Termino pedindo desculpas aos mais pudicos, mas minha mente não pode deixar enquanto escrevia de traçar analogia entre este assunto e o da pubis e outras partes do corpo feminino. É pura expressão de gosto pessoal, mas para mim a verdade é a mesma nos dois casos. Uma estrada sem nenhum matinho ao lado perde muito de sua graça.

3 comentários:

  1. sorrio, rio, dou risada, rio alto sozinha
    me divirto sozinha lendo...

    ResponderExcluir
  2. Imprevisível, espirituoso e verdadeiro! Adoro! Go!

    ResponderExcluir
  3. Grande Zela..3 posts em uma semana...Incrivel..perdi 2,,hhehehe. Isso é que da pegar carona. Adorei..Bom saber que esta na ativa meu caro. Devagar e sempre. Saudades. E sobre este ultimo paragrafo..Speechless!!!

    ResponderExcluir