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A primeira subida... |
Foi cedo o despertar, não muito. Saí do chalé onde dormira com a esperança de embarcar-me até a Juréia, pulando assim alguns montes, pois meu joelho reclamara. Logo soube impossível, e pus-me a subir o morro. Este quase me mata, mas foi-se. Parei por um tempo na sede da Estação Ecológica da Juréia para as necessárias autorizações. O diretor do parque, Roberto, sujeito de muito boa índole ajudou-me como pôde. Segui viagem, e logo veio a estrada de terra com bons trechos de lama. O caso é que eu nada sabia então, Sobre os 120 Kg que somos, eu, as malas e Clotilde. Assim penso chamar minha bicle (acho bike muito importado, direi bicle, mas aceito pitacos a respeito do nome Clotilde).
Todos esses quilos logo fizeram quebrar meu bagageiro chinês dianteiro (não pude encontrá-lo de outras nacionalidades!), freando minha bicle bruscamente. Ali aprendi minha lição número um a respeito de pedais que se prendem aos pés: São extremamente contra indicados em casos de lama e terrenos acidentados. Parada a bicle, eu com os pés presos caí um tombo deveras ridículo e nem portanto pouco doloroso. Estava em maus lençóis, não fosse um gentil jovem que vivia por ali arrumar-me um parafuso para repor o roto. Assim fomos, até que a garoa fininha nos visse diante de uma enorme e íngreme subida cascalhada. E assim sofri...
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Gambiarras. |
Passou de carro então o Enoque, rapaz sorridente que me levaria de barco até o povoado do Prelado. Não saiu de graça a brincadeira, mas desta vez era imperativo o subterfúgio naval pois os morros à frente eram intransponíveis dadas nossas condições físicas, logísticas e morais. Íamos de saída pelo mar quando um alegre e aprazível senhor nos veio com uma idéia bastante lógica. Caso seguíssemos pela intricada malha fluvial da Juréia, chegaríamos a nosso destino em tempo semelhante, mas sem o oneroso inconveniente de enfrentar os domínios de Posseidom em uma mínima lancha. E depois era só pegar uma trilha de fácil acesso e lá estaria o povoado.
O passeio de barco pelos canais da Estação foi delicioso. Lindo era o lugar que me reservava surpresas inimagináveis. Entramos em alguns braços de rio errôneos, mas finalmente acertamos. Agora era só uma questão de ficar de cuecas e atravessar um pântano com as malas nas costas e lama até o joelho. Do outro lado despedi-me de Enoque e apressei-me em montar as bagagens na bicle, pois os raios solares já se faziam escassos. Foi quando percebi que o bagageiro traseiro (talvez até proveniente da mesma região que o dianteiro) também estava quebrado. O tempo de fazer uma gambiarra foi suficiente para afugentar o restante da luz. Viva as lanternas chinesas!!!
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Canais da Juréia. |
A trilha começou bem, mas assim que o escuro se fez completo começaram os pontos de barro e pequenos riachos lamacentos que me obrigavam a molhar os pés e fazer força para empurrar a bicle. Torcia para que não houvesse muitos mais destes pontos, mas parece que meus votos em nada influenciavam o caminho, pois logo vieram poços de lama de se enterrar até os joelhos com galhos, cipós, arvores caídas, enfim... Foram tombos e quedas de todos os jeitos e hoje vos escrevo bastante dolorido!!! Mas, aquilo havia de acabar era meu pensamento, foi quando caiu-me o parafuso do bagageiro dianteiro, aquele de logo acima no texto. Me consolava o fato de não ter caído novamente devido à lição anteriormente aprendida a respeito de pedais que se prendem aos pés. E que Deus abençoe o momento em que Beto Araújo de Matramba e Silva retirou-me da ignorância a respeito das fitas Hellerman. Por mais uma vez, seus colossais poderes gambiarrísticos me haviam salvado!!! No total, aquela inocente trilha de que me havia falado aquele agradável senhor impedindo-me de desembarcar por mar diretamente no povoado, resultou em duas horas de lama e hematomas no breu de uma noite que ainda havia de ver uma linda lua. Cuidado com os agradáveis senhores eu vos digo!
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Grande Reginaldo! |
O fato é que cheguei. Alquebrado e lamacento, parei em uma casa para me informar à respeito de como chegar ao mar para acampar-me. A amigável pessoa que me atendeu demonstrou-se mui hospitaleira, cedendo-me uma parcela de seu gramado, um chuveiro quente, comida e uma boa dose de calor humano junto à seus colegas e familiares. Dormi cedo e acordei cansado, mas mais pronto que nunca para continuar...