O espanhol de milhares de quilômetros! |
Primeiro foi o ócio! Talvez as explicações até sejam bastante válidas, no dia anterior havia feito 135 Km partindo de Montevidéu, máximo que já fiz em um dia. Durante este trajeto conheci um rapaz espanhol de quem infelizmente escapa o nome, que já contava cerca de 3.500 km rodados desde a patagônia. Bastante inspirador! No dia seguinte porém, meu esforço da véspera me foi cobrado. Acordei com uma preguiça incrível no corpo... Difícil sair da barraca armada na noite anterior em uma mata que beirava um rio até que grande. Comecei a pedalar, e a coisa não vinha. Pernas meio moles, um cansaço na alma... Após um café bem fraco por falta de opção tive que parar novamente para ver se um refrigerante e uns chocolates surtiam algum efeito energético. Com este auxílio artificial pude completar sofrendo os 50 km que me separavam de Colonia del Sacramento.
Colonia é uma agradável cidade com um belíssimo conjunto arquitetônico histórico resultante de influencias coloniais espanholas e portuguesas. E pasmem, conheci em uma das ruas um casal que já havia ido à Índia mais de dez vezes!!!
El Drugstore |
Zanzando entre diversos restaurantes e cafés agradáveis, um chamou-me um pouco mais a atenção, o El Drugstore. Decorado interna e externamente de forma bastante colorida e poluída, e ainda assim harmônica. Possuía um carro que suponho ser da década de 40 usado como vaso, como faz o Grupo Bijari em suas intervenções. Deparado com a fome e um tanto de gula, sentei-me em uma mesa ao ar livre e presenteei-me com uma cerveja e um peixe ao molho de ervas finas. Ambos deliciosos. Ao lado haviam dois rapazes nitidamente gringos a quem minha mente rapidamente julgou pouco interessantes. Cidades turísticas em todo o mundo são constantemente visitadas por norte-americanos bastante insossos, e esses dois tinham bem essa pinta. Mas pra calar minha boca e fazer-me engolir e consequentemente rever meus tolos preconceitos, a dupla era muito agradável e cheia de boas histórias.
Os amigos de Colônia. |
Sobretudo o careca de bigode que antes me parecera inclusive antipático. Fato é que o figura, Henry Biernaki, acabara de lançar seu primeiro livro, baseado em suas muitas andanças e frequentes interações ao redor do globo. Assim criara personagens e diálogos semi-fictícios para compor histórias onde ele aparece, sempre em segundo plano, para enquanto interlocutor expressar fatos e ideias transmitidos por estas pessoas com quem conviveu. Contei-lhe sobre minha viagem e sobre este blog. Muito interessado Henry indagou-me:
- Vc tem a intenção de algum dia transformar este projeto em um livro.
- Não sei, confesso que encontro imenso prazer no escrever, mas se minha narrativa tem qualidade e o que me acontece chega a ser suficientemente interessante para ser publicado são outros quinhentos.
Henry então me disse:
O carro vaso |
- Infelizmente por não dominar seu idioma não creio poder ajudá-lo com esta decisão. Mas o fato é que, caso um dia tenha vontade de colocar suas andanças no papel, não se esqueça de inserir diálogos. Durante muito tempo escrevi sempre em primeira pessoa. Até que um dia alguém me alertou para o fato de que um texto inteiro nesta forma narrativa cansa. Poucas pessoas tem saco pra ler todo um livro onde um tipo tece sua visão à respeito do mundo, da vida ou de uma simples história. Acho que o público prefere buscar suas próprias conclusões acerca do que cada personagem tem a dizer. Caso contrário tá tudo mastigado, com pouca margem à interação provocada pela interpretação subjetiva do leitor.
Interessante cara, vou pensar à respeito... Obrigado pela dica! Despedimo-nos então pois me aproximava a hora do embarque naval a Buenos Aires. Parti com essa questão em mente e acho que Henry tem razão a respeito. Os diálogos tornam os textos mais ricos e menos egoicos. Creio que podemos tentar seguir este conselho... O que vc acha?
cada vez melhor!
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