quinta-feira, 16 de junho de 2011

A coisa de se tomar mates - Um interlúdio

Por do sol em Montevidéu
São 11:47 da manhã em Montevidéu. Acordei faz um par de horas e tento desde então colocar um mínimo de intenção na desordem que se fez em meu coletivo muleta de memória, a dizer, fotos, textos e vídeos. Acabo de cevar o primeiro mate do dia, para tomar-lo tranquilamente mirando o encontro do Rio da Prata com o Atlântico da janela do apartamento de Santiago, um novo e querido amigo uruguaio. Os gurizes ainda dormem.

Faz desde a infância que o mate, ou chimarrão como queiram, me acompanha. Meu avô paterno trouxe esta tradição à nossa família por suas raízes catarinas. O mate sempre foi nosso companheiro nos momentos de pouca pressa e longas prosas, como ele costumava nomear conversas. Lembrando hoje, é algo assaz encantador o quanto houve de diversão em meio à simplicidade ritual de sentar-se em roda, sobretudo na varanda da antiga casa que ainda existe na fazenda onde cresceram meu pai e seus irmãos e de onde me veio o gosto pela vida campesina. De mãos dadas com estas memórias vem as de acender o fogo no fogão à lenha depois de partir troncos com  o machado para então esquentar a água e assar pinhões na chapa.

Roda de mate no rio Azul
Não posso fazer um fogo sem me lembrar com um algo nostálgico estes que foram dos momentos mais agradáveis de minha vida junto ao Sr Estanislau e à Dona Eminilda Zelazowski. Sinto-me profundamente grato por estes conhecimentos rituais que me passaram, em tempos em que não poderia jamais imaginar o quanto me marcariam. Por pouco que possa parecer, o aprendizado que tive então sobre o como cortar com machado e facão, a arquitetura inicial e a concentração necessária para se fazer fogo sem auxílio de inflamáveis e a maneira de cevar um mate, me fazem hoje uma pessoa mais feliz e mais dada ao que envolve ritos.

Cuias à venda
Por anos porém me afastei disso tudo. Acho que como resultado daquela revolta necessária para se forjar  um caráter próprio e individual longe do seio familiar. Há algum tempo porém que o fogo e o mate se fazem cada vez mais presentes em minha vida, culminando em minha passagem pelo Rio Grande do Sul, e sobretudo nesse agora em que me sinto um pouquinho uruguaio. Acho realmente lindo este tipo agradável de comunhão social provocada pela cerimônia da Ilex paraguariensis que herdamos dos que aqui estavam antes da chegada dos saqueadores. Quero aprofundar-me em breve na visão antropológica do uso desta erva, e se algum de vcs estiver disposto a dividir conhecimentos tocantes ao assunto, em muito me agradariam comentários e/ou emails.

Sigo então com a cuia em mãos. Vai um mate aí?!!!

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