terça-feira, 28 de junho de 2011

De Buenos Aires a El Bolsón de qualquer forma!!! (parte 1)

A Estepe Patagônica
 Cheguei a Buenos Aires num dia cinza. E essa foi minha primeira impressão da cidade, cinza. Me pareceu uma versão paralela de São Paulo, outra, porém igual. Já havia sentido algo semelhante em Milão. Bem pode ser porque minha atual aversão à cidade não me tenha deixado ver muito além das aparências iniciais, mas não tive a menor vontade de prolongar a estada para tirar dúvidas. Pedalei diretamente à estação de trens, pois estava bastante atrasado para a data do curso de bioconstrução em que queria estar, então necessitava viajar de forma mais rápida. Em meio a um ambiente que não me deixava sentir nenhuma segurança foi-me informado que os comboios estavam todos lotados. Tive de voltar para bem perto de onde havia desembarcado para dirigir-me à rodoviária. Neste mesmo dia já não havia onibus para El Bolson ou Bariloche, motivo pelo qual comprei um bilhete para Neuquen, a cerca de 500 km de meu destino. So então, na poltrona do coletivo voltou-me habitar a tranquilidade.

km até então...
Acordei com a vista maravilhosa da estepe patagônica. Muitos a consideram monótona e portanto sem graça. Discordo plenamente. Me pareceu um lindo deserto cheio de cores, vegetação e relevo incríveis. Montei Clotilde, pedalei cerca de 1 km e me veio a primeira quebrada de bagageiro em solo argentino! Pausa para conserto e aí vamos... Pedalei 70 km baixo a um sol fortíssimo quando foi findando o dia. Estava em Arroyto, que é basicamente um posto de gasolina com chácaras e fazendas desérticas para todos os lados!!!  Poderia dormir atrás dos banheiros me disse o frentista, mas me pareceu mais tentador baixar até um rio que parecia não estar longe. E não estaria mesmo caso a estrada não fosse um puro areião que dificultava muito o trajeto mesmo empurrando a bicle.

Acampamento
Chegando perto fui surpreendido por três cães que não me pareceram nada contentes com minha presença. Por sorte um senhor de aparência mexicana me veio ao socorro. Aquele Sancho Pança apresentou-se por um nome que já se me foi da memória e dirigiu-se a mim num castellano carregado e de difícil compreensão:
    -Que haces aqui chico?
    -Estoy de passage señor, y busco la margen del rio para reposar-me esta noche.
    -Y de donde éres usted?
    -Soy de Brasil.
    -Ah Brasil! (Me disse o ancião). La Djuja, yo conosco la Djuja.
E eu me parguntei quem caralho seria a Djuja. E o senhor vendo minha expressão aturdida tratou de esclarecer-se.
    -La Djudja. La rubia linda de poca ropa de la têle. El negro Pelê se la hacia. Ah negro safado, se la hiço bien la Djudja!!! Hehehe...
E ria o velhote com cara de safado, que no pouco que podia entender de sua rudimentar comunicação, conhecia bem à Xuxa e sua vida passada pessoal com Pelé. A situação era surreal. Estou acostumado, assim que me apresento brasileiro me vem alusões ao futebol, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, samba, capoeira, caipirinha e tal. Pelé também, mas nunca antes pelo fato de ele ter comido a Xuxa!!! Ao menos não num primeiro momento.

Entardecer na chácara do tiozinho...
O tiozinho então me fez passar por sua chácara bastante desorganizada e apontou-me o caminho ao rio, deixando claro por diversas vezes que estava aberto a quaisquer possíveis doações. Apesar de buscar beiras de rio para acampar entre outros motivos pela economia de camping, senti-me compelido a colaborar. Dei-lhe alguns pesos e me fui ao lindo rio onde banhei-me numa água gelada de gritar, armei acampamento e fiz fogo para cozinhar. Sancho visitou-me mais tarde, conversamos bastante apesar de eu comprender cerca de 10% do que o homem dizia. Mas não importava muito, havia calor em seus olhos e uma alegria mútua pelo momento compartido. Tive uma boa noite de sono embalado e protegido pelo rio que nomea o local.

(continua em 4 dias)

5 comentários:

  1. Bem na Grande Cruz Astrológica vc se mexeu!
    Deus te acompanhe!

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  2. Grande zela....2000 KM..Agora sim. Gostei. Vou fingir que vc colocou essa foto para eu parar de te encher. ledo engano. Meu, ao imaginar tamanha homenagem, e seu, ao imaginar que eu parei por aqui. Quero ver isso live, em uma janelinha na pagina inicial. Se vira.

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  3. Mãe, nesse texto, como expliquei anteriormente no blog, estou contando coisas que aconteceram há quatro meses. Sigo paradinho em El Bolsón. Mas, parado não quer dizer igual, visto que há muitas maneiras de viajar!

    Nandão, tenho atualmente pouquíssimo acesso internautico pois estou vivendo em uma chácara onde não há nem luz elétrica e venho à cidade uma vez por semana pra mails e tal. Se vc descobrir como se coloca o tal odômetro, qdo der, hei de realizar seu tão caro desejo!!! Sobre o post anterior depois comento com mais tempo!

    Beijo 2

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  4. Boa noite, pretendo ir a El Bolson, para depois seguir para o Parque Nacional de Puelo. Você saberia me informar quais empresas de ônibus ou mesmo trem fazem esse trajeto? E qual o valor aproximado?

    Bom desde já agradeço...

    obs: Seu blog é muito bom.

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  5. Muito legal a iniciativa, e lendo o blog reacendeu a vontade de seguir a viagem a muito esquecida, espero encontra-lo de novo, mas não um onibus de turismo em Boenos Aires, mas quem sabe, numa montanha nos andes.

    Abraço e boa sorte com a viagem.

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