sábado, 28 de abril de 2012

Parque Nacional de Los Alerces



Linda cascata
Amanhecer violento...
Falei breve no anterior sobre este lugar, mas acho que ele merece mais de atenção. 

Infelizmente cruzei o parque mais rápido do que gostaria, mas deu pra sentir o gostinho, e dá vontade de voltar. Fato é que a data atual já é um pouco avançada pra estar por aqui, começa a esfriar e quanto mais nos adiantamos no outono, maiores as promessas de chuva no sul do Chile, nosso próximo passo. O tempo também não estava perfeito, sobretudo para fotos, o que fez com que estas não estejam à altura do que viram meus olhos. Mas conto um pouco:

Chegando ao tal...
Acampamento
Dormi dois km antes de entrar no parque, fiz fogo, comida, e despertei com um amanhecer de cair o cú da bunda por trás das montanhas ao lado de um lindo lago.

Montanhas
Iniciei o pedal, conversei de leve com o guarda do parque, e iniciou-se uma sucessão de montanhas variadas , peladas, com pinheiros desenhando caminho entre rochas enormes, com camadas de árvores todas vermelhas vestidas de outono, com picos nevados, alerces (arvores centenárias sagradas para os índios Mapuche) gigantescos que se encontravam nas alturas formando tuneis e rios e lagos e mais rios e mais lagos todos belíssimos.

Rio Arrayanes
Outros montes
Isso até avistar o fabuloso rio Arrayanes.
Algo fora do comum. De um tom de verde esmeralda profundo e de águas por hora calmas ou mais animadas pelas corredeiras.

Pé de arrayane às margens do rio
 As bordas do rio são bastante arborizadas, por isso eu pedalava buscando janelas para entrever a beleza do danado. Assim baixei até um camping que o bordeava, e para minha agradável surpresa, pelo fato do pessoal estar ordenando o local para partir no dia seguinte, me foi permitido acampar e tomar uma ducha quente deliciosa sem nenhum custo!!!  E quando baixei mais, meus olhos pouco podiam perto da cena. Fazia sol e chuviscava sobre o rio em uma abertura entre o lindo bosque...

E outras...
No dia seguinte acordei cedo e fui caminhar. Fiz uma trilha bem íngreme que levava ao lago escondido, que era  bem bonito, mas o céu estando todo encoberto creio que não pude percebe-lo tão bem. Por muita sorte, ao baixar, o tempo abriu permitindo-me apreciar um maravilhoso panorama do parque. Baixei e peguei a estrada novamente. A parte mais baixa do parque está um pouco prejudicada pelo assentamento um pouco desordenado de seus habitantes, mas o que levava no coração deste pouco tempo que estive conectado com este parque me fez passar por esta área feliz da vida. Muito bom estar aqui!!!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Comparando



Há uns meses venho pensando sobre a comparação (La vem o cara pensando!!!). Essa mania que humanos, ao menos ocidentais têm de comparar tudo. Uma sensação veio assim em conversas com amigos sobre lugares visitados, e invariavelmente vinha a opinião de alguém para selar o fato de que tal lugar era mais bonito que outro. Meio normal esse tipo de colocação, mas sem bem saber por que, sempre me incomodava um pouco. E pensando a respeito enquanto pedalava e passava por lugares tão maravilhosos, tantas montanhas, tantos rios e lagos, e todos tão lindos. Porque um teria de ser mais bonito que o outro.

O lugar mais lindo do mundo...
E num amanhecer majestoso enquanto o sol pintava de laranja uma cadeia de montanhas por trás de um lago incrível, caiu-me a ficha de que esse, era o lugar mais bonito do universo! E nem por isso, outros lindos lugares soltos por aí são menos belos. O lugar mais lindo então deve ser aquele que nos permite emocionar, conectar e silenciar nesse momento único em que aí estamos, e sua característica deslumbrante não rouba em nada a cena de nenhum outro. Na verdade quando alguém se põe a pensar nas infinitas maravilhas que compreende o corpo de nossa enorme mãe comum, a terra, a simples ideia de comparar soa bastante ridícula.

Mas disso foi nascendo qual flor o sentir de quão pouca lógica há em comparar. Era algo de que já me havia convencido a nível intelectual, mas me faltava internalizar este pensamento, passa-lo ao nível mais profundo do sentimento. E essa linha tirada do novelo pela percepção de que um lugar não é objetivamente mais bonito que o outro, me pareceu provocar essa união pensar/sentir sobre a questão. Por isso trouxe isso aqui, pois alguns de vcs que já sabem bem disso estarão contentes por minha pequena conquista, e para outros a quem essa ideia está menos clara talvez por ser mais nova, pode haver aí alguma sementinha boa buscando o solo fértil do seu coração.

Ou será esse???
Perceber que somos educados desde pequeninos pra separar, categorizar e comparar tudo. Colocar toda e qualquer maravilha do universo dentro de caixinhas etiquetadas que nos permitem ‘’entender ‘’ as coisas, mas que na realidade, nos separam de sua essência. E depois aplicaremos isso que aprendemos a tudo o que nos rodea, pessoas, lugares, países, animais, vegetais, comidas, sentimentos, pensamentos, enfim... E alguém pode nos parecer melhor que outro alguém por certos parâmetros predeterminados do que nos parece mais ou menos válido enquanto centímetros de uma régua social imaginária. Mas passamos ao lado da realidade dessa pessoa, da possibilidade de sentir e conectar-se com esta alma que aí está. O mesmo serve a meu ver para qualquer outra coisa, o simples fato de comparar transforma uma flor em uma ideia, e nessa transformação o que concebemos por flor perde a magia que se pode sentir ao ver, tocar, cheirar, sentir e conectar com essa mesma flor, e já nos impede de conhecer sua essência, pois existe um preconceito.


Parece-me que muito do que nos incomoda, sem necessariamente se fazer perceber claramente, em nossos tempos provém deste mal arraigado em nossa cultura. Do fato de estarmos sempre comparando tudo, como se houvesse a necessidade de um melhor, um vencedor, um campeão. Acho apropriado o momento, estando às vésperas de uma nova era, para que possamos reavaliar essa conduta social. Onde poderemos chegar caso decidamos/lembremos que somos todos campeões, que todas as flores são lindas, e que o lugar mais lindo é sempre aqui e agora.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Hola !!!


Bahia com Matilde
Nem sei bem por onde começar depois de tanto sem estar aqui. Parece fazer sentido contar um pouco pra trás, senão fica um buraco estranho no tempo do blog, então vamos lá. Depois do último post no ano passado, estive por uns meses no Brasil, visitando e viajando um pouco. Essa ida/volta tão cedo não estava nos planos iniciais, mas planos estão aí pra serem mudados segundo nossas necessidades atuais, verdade? 


Vovó e Seu Hugo Zelazowski em Mendoza
Foi muito agradável estar com as pessoas queridas, mas o que rolou de mais relevante contar dessa viagem foi o trecho Umuarama/Bahia/Umuarama onde pus minha CG 125 ano 82 pra rodar longe pela primeira vez na vida. Pintou um trabalho de consultoria no Hotel Vila Naiá em Corumbau, e como minha motinha Matilde é bastante econômica, pareceu-me que além de curtir o trajeto de 5.000 km ida e volta, iria economizar em gastos. Doce ilusão, pois umas poucas paradas em oficinas mecânicas me fizeram reavaliar esta ideia inicial... Mas adorei a experiência!!! Depois vim com meu pai e minha avó de 90 anos, visitar Buenos Aires e Mendoza. Uma viagem rápida e muito diferente das que estou acostumado a fazer. Mas foi muito agradável estar com eles por estes lados.

A tal Pedra Parada
De Mendoza baixei para El Bolsón para visitar os amigos feitos na temporada anterior e resgatar a Clotilde, já tão impaciente para retornar à estrada. Participei como voluntário em mais um Bioconstruyendo e estive por algumas semanas ajudando e curtindo com o pessoal do Valle Pintado e da Reko. Fizemos um lindo passeio até Piedra Parada, um lugar incrível com uma pedra gigante em pé, em um vale cercado por cânions alucinantes com paisagens desérticas às margens do Rio Chubut. Fiz mais uma turma de amigos/irmãos de caminho, reencontrei muitos do ano passado, e depois de curti-los bastante chegava a hora de pegar o trecho.

Parque de Los Alerces
No dia 07 de abril voltei a pedalar com rumo a Epuyen, 30 km ao sul de El Bolson. Finalmente visitei Marcelina, irmã do Sohar, amigo que conheci em Ibiza em 2008. Ela também vive em uma chácara linda onde trabalham com bioconstrução. Dei uma força aí por uns quatro dias e voltei a rumar ao sul. Nesses últimos dias fiz o trecho entre Cholila, Vila Rivadávia, cruzei o Parque Nacional de Los Alerces e Cheguei a Trevelin, de onde escrevo nesta fresca manhã do dia 17 tomando um bom mate. Este percurso não foi dos mais fáceis, pois boa parte dos kms rodados foi de  cascalho solto e com direito a muitas subidas. Mas, houve dois ótimos motivos para alegrar-me. O primeiro deles é o quão lindas são as paisagens. Uma sucessão incrível de rios e montanhas de tirar o fôlego, muito camping selvagem cozinhando na fogueira, bem como a gente gosta. O segundo foi perceber que este ano e dois meses sem pedalar não me deixaram tão frouxo como imaginava!!! Apesar de não estar fazendo muitos quilômetros diários devido aos acidentes geográficos e à qualidade das vias, percebo que meu corpo está respondendo muito melhor que quando iniciamos esta jornada à pouco mais de um ano e meio atrás. Aí abaixo agora coloquei essa novidade tão requisitada pra dar uma ideia mais  clara do onde/quando da viagem. Vou tentar colocá-lo em cada post, mas não prometo!!!


Longo caminho...
Daqui parto hoje pra Futaleufu no Chile, onde pretendo conhecer Chaitén, a ilha de Chiloé e finalmente começar a rumar norte, de encontro aos aproximados 12.000 km que me separam do Panamá (Pois logicamente, o plano já não é mais fazê-los pelo caminho mais curto, e sim pelo mais lindo e visitando amigos). Ontem completamos 2.500, praticamente estamos engatinhando na jornada, mas vamo lá. Quis dar aqui algum teor objetivo para preencher um pouco a lacuna desse tanto tempo sem notícias. Pouco a pouco vamos voltando ao caráter mais subjetivo da parada que creio ser mais nossa praia. Assim seguimos, um kmzinho após o outro mais próximos da Índia, mas sempre vivendo intensamente o agora. Sejam benvindos, antigos e novos companheiros de estrada, já estava com saudades de vcs! Forte abraço e até breve.