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Representação de Kokopelli |
Estive recentemente em um Encontro de Cuidadores de Sementes
no Perú chamado Kokopelli Pachamama. O evento foi facilitado pela Kokopelli, uma
organização francesa que há mais de vinte anos luta pela preservação de
cultivos tradicionais e por uma mudança conceitual de modelo de agricultura no
planeta. Foram oito dias de intenso intercambio de experiências incríveis em
sustentabilidade, técnicas agroecológicas e caminhos que visam produzir com abundância
e em harmonia com o planeta e a trama de vida que o habita. Mas também foi um
forte momento para informar-se a respeito de como se organizam as
megacorporaçôes que buscam o lucro acima de toda e qualquer coisa, e através de
um aumento de consciência acerca destes fatos, avaliar nossos próprios atos
para não estar colaborando por ignorância ou preguiça com a destruição massiva
que vem sofrendo nossa linda morada azul. Aqui vai um resumo (e ainda assim o
texto ficou enorme, mas devido à exagerada importância do tema em questão,
achei necessário ser o mais completo possível) do que pude perceber como
essência deste encontro e algo do que podemos fazer para colaborar com a vida:
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Vandana Shiva |
Segundo Vandana Shiva, conceituada filosofa e ativista
ecológica indiana presente no encontro, o paradigma moderno e essencialmente
"masculinista" de produção alimentar que nos trouxe conceitos como
“Revolução Verde” ou ”Agricultura Científica” provoca uma ruptura entre elos
essenciais à nossa sobrevivência como o manejo sustentável de florestas, o
cuidado com os animais e a agricultura. A tradição humana de manter vivos os
solos com auxílio de composto orgânico natural e esterco animal entre outras
técnicas provenientes de fontes renováveis foi substituída por uma forma de
agricultura reducionista que se apoia no uso de recursos não renováveis
transformados industrialmente e altamente poluentes.
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Milho crioulo |
Além disso, hoje enfrentamos o problema do encarceramento
das sementes. Ao longo dos últimos séculos vimos aparecer novas “variedades” de
plantas, aparentemente mais produtivas e “resistentes”. Porém, o que muitas
vezes chamamos atualmente de variedade quando nos referimos a uma espécie
particular de uma determinada planta, é na verdade um clone, pois “variedade”
pressupõe diversidade. Algo diverso não pode ser identicamente reproduzido,
logo, segundo as leis atuais em muitos países, não pode ser patenteado. Um
grave problema é o de que a busca por organismos que possam ser patenteados
rompe com outro elo da corrente que permite nossa vida sobre o planeta, o da
biodiversidade, padrão natural que busca através da multiplicidade de elementos
estabelecer o equilíbrio de um ecossistema.
Na contramão desta lógica apareceram os clones, as sementes
híbridas e finalmente os organismos geneticamente modificados. Um clone, por
exemplo, por mais que multiplique certas capacidades positivas de uma espécie
igualmente entre todos seus “descendentes”, possui uma carga genética idêntica
comum a todos os indivíduos. Sendo assim, por não contar com os benefícios de
um patrimônio genético diverso, todos estão vulneráveis aos mesmos tipos de
possíveis ataques, o que os torna muito mais frágeis e portanto infinitamente
mais dependentes de agrotóxicos.
Depois vieram as sementes híbridas e uma série de estórias a
respeito da alta produtividade que a heterose (procedimento pelo qual se obtém
este tipo de organismo) provoca. Mas o que na verdade se escondia muito bem do
público era o fato de que toda e qualquer melhoria feita nestes cultivos deu-se
através do bom e velho processo de seleção por gerações, conhecido pelos
agricultores de todo o mundo há muito tempo, contando somente com a clonagem
introduzida ao processo uma vez encontrada uma variedade interessante. Por alto
investimento científico logrou-se produzir variedades muito bem adaptadas que
foram posteriormente clonadas e hibridizadas tão somente para poder
patenteá-las e obrigar o agricultor a comprar novamente suas sementes a cada
safra. A heterose em si não provoca nenhum benefício à planta posterior ao
desenvolvimento da variedade, e a clonagem somente a torna mais dependente.
Resta o fato de que estas plantas de alta produtividade poderiam perfeitamente
ter sido desenvolvidas por associações de agricultores ou organismos
governamentais através de métodos de polinização aberta ao invés de clonagem, e
isto diminuiria incrivelmente os gastos involucrados na produção de alimentos
enquanto favorizaria a ocorrência de biodiversidade.
E finalmente chegamos ao ponto em que através de um novo
falso paradigma simplista, o de que tudo na vida é comandado pelo código
genético, começamos a macaquear com a estrutura interna dos organismos vivos
como se fosse brinquedo. Talvez este caminho inclusive seja um dos tantos
necessários à nossa evolução enquanto espécie. Não sei ao certo e não gosto de
estar no time que diz não antes de saber de que se trata o assunto. Mas o
mínimo de bom senso necessário à questão seria pedir que estes organismos
modificados fossem estudados e testados extenuantemente, ao longo de anos e
anos, antes de que se tornassem alimento aos animais que nos alimentam e a nós
mesmos. Mas os caras se apoiam num argumento parecido ao de telenovelas
mexicanas: Estes alimentos vão erradicar a fome no mundo! Dizem. Já vão mais de
dez anos que ouvimos esta conversa e que nos permitimos manusear por estas
empresas.
Existe porém exemplos como o do que aconteceu ao doutor Árpád Pusztai, cientista húngaro que conduzia pesquisas há 36 anos no mundialmente renomado Rowett Research Institute, em Aberdeen, Escócia. As pesquisas do dr Pusztai tinham como objetivo provar que um tipo de batatas geneticamente modificadas não representavam perigo à saúde humana. Sua equipe já havia feito testes exaustivos de alimentação em ratos com o gene a ser inserido neste cultivo e não houveram problemas. Foi grande portanto a surpresa da equipe ao descobrir que as batatas modificadas porém, provocavam efeitos negativos no revestimento do estômago e no sistema imunológico dos animais. Perceberam assim que um gene diferente isolado poderia não causar consequências, mas ao ser forçadamente inserido no código genético de um ser, pode tornar-se uma ameaça, e é assim que o corpo das cobaias compreendia este "alimento", como um ataque. O científico motivado por sua responsabilidade profissional alertou a população à respeito do risco alimentar de OGM's em um programa de TV. Como resultado de sua ação mais do que lógica, perdeu seu cargo em um instituto de pesquisas "independente", e funcionários da Monsanto usando nomes e emails falsos iniciaram uma campanha de difamação do trabalho do Dr Pusztai e de membros de membros de sua equipe de pesquisa que também foram afastados do Rowett Research Institute.
Hoje, uma parte enorme destes “alimentos milagrosos” é
produzida para alimentar gado (sendo que a produção de carne em massa consiste
em uma forma de alimentar altamente ineficiente energeticamente, sobretudo
quando se fala de erradicar a fome) e para produzir biodiesel, que até onde eu
sei não possui grandes propriedades nutritivas. Ao longo dos últimos anos,
dados mundiais mostram mais e mais pessoas ao redor do planeta sem acesso a um
mínimo de alimentos suficientes para sobreviver, enquanto o abismo social entre
muito ricos e muito pobres não para de crescer. E finalmente, outro pedido
mínimo seria o de que produtos alimentares que contém OGM’s estivessem
etiquetados como tal, mas estas corporações batalham com todas suas forças, com
auxílio de advogados e políticos corruptos para que as pessoas ao redor do
mundo não tenham o direito de saber se estão consumindo produtos desta quimera
científica.
Coisas que a princípio pareciam maneiras de proteger
desenvolvimentos científicos de uma empresa contra formas de concorrência
desleais como o patenteamento de sementes, hoje são armas em uma guerra contra
agricultores que desejam seguir produzindo suas próprias sementes ou plantando
variedades desenvolvidas por nossos ancestrais ao longo de milênios de nossa
história.
Neste cenário, as mesmas megacorporações que:
• Empobrecem o patrimônio genético desenvolvido por
incontáveis gerações de agricultores em todo o planeta, que isto se dê por
clonagem ou contaminações de cultivos naturais por organismos geneticamente
modificados.
• Comercializam livremente veneno e plantas quimicamente
dependentes dos ditos “remédios para a lavoura” que como bem sabemos são
diferentes versões do lixo toxico ocasionado pelo fim da segunda guerra
mundial. Armas químicas que já foram usadas por humanos contra humanos, hoje
são empregadas em uma batalha cruel contra o planeta, seus recursos hídricos,
minerais e toda a rede de formas de vida que curiosamente proporciona nossa
própria existência.
• Inventam sementes que não se reproduzem para obrigar o
agricultor a comprar suas invenções anualmente e eternamente.
• Arriscam nossa saúde distribuindo sementes de alimentos transgênicos
que não se sabe quais efeitos provocarão a médio e longo termo, pois a maioria
destes não foi se quer minimamente estudada e testada antes de chegar às
prateleiras dos mercados.
Não estão satisfeitas com a situação atual, portanto buscam:
• Patentear cultivos, árvores e formas de utilizar plantas
tradicionais por todo o planeta. Estão buscando mudar leis em diversos países
para tal. Roubam sementes e receitas de preparados desenvolvidos por culturas
tradicionais, e desde que não haja publicação científica a respeito, o que é
bastante comum visto que camponeses não costumam publicar textos em revistas
científicas, afirmam os terem desenvolvidos e patenteiam a semente ou preparado
em questão. A partir daí, além de ganhar milhões com a venda de algo que é
patrimônio conjunto entre humanos e sua Mãe Terra, por direito podem perseguir
legalmente os verdadeiros “criadores” destes “produtos”, bem como pessoas que
exerçam atividades comerciais envolvendo todo e qualquer subproduto desta
planta. Na Índia chegaram ao absurdo de patentear o Nim (e também um preparado
à base de suas folhas), uma árvore milenar há milênios conhecida por suas
propriedades inseticidas, e isso somente para ilustrar o tópico, pois os
exemplos deste tipo são incontáveis.
• Perseguir legalmente agricultores tradicionais. Já ocorreu
no Canadá algo que parece sair de um filme de ficção científica destes sobre
possibilidades futurísticas terríveis. Um agricultor que teve seus cultivos
infectados por sementes geneticamente modificadas caídas de caminhões de
transporte de grãos, foi acusado de cultivar sementes patenteadas sem
comprá-las e obrigado a pagar uma enorme multa pelo fato em questão.
• Tornar o comercio de sementes tradicionais ilegal. Através
de influência monetária e política, estas megacorporações já conseguiram mudar
leis em muitos países para que não se possam vender sementes crioulas, o que
obriga muitos agricultores a comprar suas sementes. Infelizmente o Brasil
consta nesta lista de países governados por políticos suficientemente corruptos
para permitir tal falácia tão obviamente contrária aos interesses de qualquer
nação.
É incrível o fato de que chegamos em alguns países ao ponto
em que para produzir uma caloria de alimento, gastam-se 10 calorias de
petróleo. De alguma forma, me parece que a conta não fecha, certo?!!! Hoje nos
Estados Unidos, e não se iluda em pensar que por hora não seguimos no mesmo
caminho, ocorre um dos maiores esquemas de crime organizado dentro do setor de
Agricultura do país (claro que a coisa é bastante parecida ou até pior no
tocante à indústria bélica, alimentícia, farmacêutica e midiática). O povo
norte americano é abertamente roubado pelo sistema de subsídios em vigor. Mega
executivos transitam entre altos cargos com muito poder de decisão e influência
administrativa do país e empresas como Monsanto ou Dupont. Hoje, somando todos
os gastos para produzir um quilo de milho nos EUA por exemplo, estes são
superiores ao valor de mercado deste mesmo produto. Então entra a subvenção do
estado, para que o preço permita ao produtor seguir plantando. Ou seja, o
contribuinte paga com seus impostos para que um estilo de agricultura
ineficiente e obviamente insustentável continue sendo praticado beneficiando
tão somente aos produtores/vendedores de lixo tóxico e sementes híbridas ou
transgênicas.
Nesse momento alguém vai dizer algo como: Mas eu me lembro
bem de quando começamos a usar defensivos agrícolas e sementes híbridas como
nosso rendimento aumentou. Lógico, neste momento os solos estavam vivos e havia
maior equilíbrio devido à presença de biodiversidade nas propriedades. Qualquer
coisa que se usasse nesta época só poderia ajudar. E assim se deu a revolução
verde, por uma relação parecida com a de um traficante (grandes corporações) e
um viciado (agricultores e profissionais promotores de conhecimento no ramo
agrícola). Vamos discorrer um pouco mais sobre isto em tópicos:
• E o que seria um solo vivo? Sabemos hoje, que as raízes das
plantas não absorvem diretamente os nutrientes presentes no solo. Isso ocorre
na verdade por meio de uma intricada relação simbiótica entre elas, fungos e
bactérias aí presentes. Logo, um bom indicador de um solo vivo seria uma alta
presença destes mesmos organismos. Além disso, a planta necessita de fácil e
constante acesso à água, e para que esta chegue às raízes, faz-se necessária
toda uma malha de túneis cavados por uma multiplicidade de insetos e vermes que
ainda por cima fertilizam o solo constantemente com seus excrementos. Logo,
pode-se dizer que a saúde da planta, mais que nada depende de um incrível
ecossistema em equilíbrio causado pela interação da fauna microbactereológica,
insetívora e verminosa com o reino funghi presentes no solo. Aí vem o humano,
em sua incrível sabedoria e aplica diretamente sobre o solo bactericidas,
vermicidas, fungicidas e inseticidas. Além disso, revolve o solo com arado e o
compacta com gado ou maquinário, o que desestrutura toda a camada de
microgalerias por onde a água entra, ao mesmo tempo em que esmaga a fauna aí
presente. Junte a isso o fato de que o solo permanece descoberto em muitas
épocas do ano. Então o calor intenso e a desidratação provocados pela
irradiação solar tornam-se mais um fator de dizimação desta vida. A cereja no
bolo é o cultivo extenuante das mesmas terras sem prática de rotação de
culturas. Todos estes elementos juntos por alguns anos seguidos e você poderá
aniquilar a vida abaixo da terra, a mesma vida que permite que suas plantas
estejam vivas e saudáveis. Neste momento, com plantas fracas e consequentemente
constantes ataques, consulte um agrônomo, um técnico ou um engenheiro agrícola.
São grandes as chances de que ele diga que é necessário aplicar mais veneno.
Claro que já existem profissionais desta área que participam ativamente em prol
de uma mudança de consciência, mas a grande maioria deles continua apegada à cega
tendência suicida da dita “agricultura convencional”. Nossa realidade de
produção de alimentos a nível mundial parece humor negro...
• Outro grande ator neste cenário de revolução verde é o
famoso NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). Este adubo sintético que reúne
estes três macronutrientes anteriormente citados provoca um rápido crescimento
da planta e alta taxa de frutificação. Além disso, os frutos crescem muito, e
seu rápido crescimento diminui a probabilidade de incidência de pragas. Parece
perfeito, certo? Mas tá errado, pois ao crescer tão rapidamente e
alimentando-se quase que somente destes três elementos disponíveis em
abundância, os frutos não dispõem do tempo necessário para assimilar uma série
de micronutrientes presentes no solo e essenciais à nossa saúde. Isto explica
por exemplo porque um tomate ou uma cenoura comprados atualmente não possuem o
cheiro e o sabor dos mesmos legumes produzidos há vinte ou trinta anos. Os
mesmos nutrientes que conferem estas propriedades olfato-gustativas nos mantém
naturalmente menos dependentes de médicos e farmácias, logo, alimentos
saudáveis seriam uma ameaça à indústria farmacêutica. Hoje, por motivos óbvios,
abundam nas farmácias complexos vitamínicos para compensar o que nossa
agricultura deixou de nos fornecer, mas resta o fato de que estas vitaminas
consumidas de forma artificial não se comparam a seus equivalentes presentes em
fontes naturais como legumes e verduras orgânicos provenientes de solos vivos.
Quadro que mostra a involução da quantidade de alguns
micronutrientes presentes em alguns exemplos de vegetais entre cultivados na
Europa entre 1914-1992 (para cada 100 gr)
Ano
|
1914
|
1948 (média)
|
1992
|
Repolho
|
Cálcio
|
248.00 mg
|
38.75 mg
|
47.00 mg
|
Magnésio
|
66.00 mg
|
29.60 mg
|
15.00 mg
|
Ferro
|
1.50 mg
|
5.70 mg
|
0.59 mg
|
Alface
|
Cálcio
|
265.50 mg
|
38.50 mg
|
19.00 mg
|
Magnésio
|
112.00 mg
|
31.20 mg
|
9.00 mg
|
Ferro
|
94.00 mg
|
26.25 mg
|
10.50 mg
|
Espinafre
|
Cálcio
|
227.30 mg
|
71.75 mg
|
99.00 mg
|
Magnésio
|
122.00 mg
|
125.40 mg
|
79.00 mg
|
Ferro
|
64.00 mg
|
80.15 mg
|
2.70 mg
|
Fonte: Amar e regenerar a
Terra, Don Weaver 2002:17
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•Produzir alimentos durante séculos esteve associado a
produzir vida. Hoje, esta mesma atividade dificilmente ocorre sem uma enorme
gama de “cidas” ou seja, mortes. Plantas que crescem em solos débeis e que não
dispõem de todos os nutrientes necessários para seu crescimento saudável, por
motivos óbvios são alvos fáceis para seus concorrentes, pois seu sistema
imunitário está debilitado. Neste momento, tentamos matar tudo o que se
aproxime deste cultivo com uma série de venenos. É como se cuidássemos de uma
pessoa doente, e ao invés de tentar ajudar seu sistema imunológico a responder
aos ataques, tentássemos matar todos os micróbios e bactérias presentes em seu
corpo e no mundo ao seu redor, sem levar em conta se muitos destes micróbios e
bactérias vivem conosco em simbiose e inclusive buscando a recuperação deste
corpo. (Foi engraçado criar essa analogia e perceber que é exatamente isso o
que fazemos com nossa medicina ocidental atual!!!) E assim matamos os insetos
polinizadores, os fungos e bactérias que permitem que a planta receba
nutrientes do solo e os vermes e insetos que proporcionam seu acesso à água e
que adubam naturalmente o solo.
O mais curioso é o resultado. Enquanto estes
“amigos naturais” das plantas de caráter mais sutil são facilmente dizimados,
muitos dos organismos que eram os alvos iniciais deste ataque também morrem,
mas devido à resiliência natural inerente a seu papel de pioneiros na natureza,
certo número permanece vivo e desenvolve resistência ao produto tóxico. Assim
tornam-se necessárias doses cada vez maiores de venenos mais e mais potentes.
Finalmente consumimos tudo isso no alimento que comemos, na água que bebemos,
pois estes venenos poluem rios e lençóis freáticos e no ar que respiramos. Isso
ao mesmo tempo em que somos co-responsáveis por doenças, recém nascidos com
sérios problemas de saúde por má formação fetal, e mortes sistemáticas de
agricultores e seus familiares constantemente expostos a esta desgraçada forma
de plantar. Por favor, não se iluda em pensar que vc é somente uma vítima destas
megacorporações e seus malévolos executivos, pois existem caminhos alternativos
e você, com seu poder de compra (claro que, além disso, você também pode e deve
plantar!) decide estar de acordo ou não com este sistema perverso.
O sistema atual de produção de alimentos orgânicos com seus
selos de garantia caríssimos não é tampouco a solução final para o tema. Não
deixam de ser negócios que “coisificam” a vida com o único objetivo de lucrar.
São em muitos casos fazendas enormes produzindo monoculturas de legumes e
verduras destinados a serem vendidos a preços caríssimos, sendo portanto
produtos extremamente elitizados. Mas como em muitas questões no tocante à
agroecologia e sustentabilidade, o Brasil saiu na frente, criando um selo de
certificação participativa através da Rede Ecovida. Este selo é uma medida
inovadora e solidária que está permitindo a um grande número de pequenos
agricultores aqui e em alguns outros países da America Latina gozar dos
privilégios deste tipo de produção e deste mercado em franca expansão global.
Enquanto consumidores, podemos e devemos ajudar a fortalecer
tais iniciativas. Consumir localmente, apoiando e criando
demanda para produtos livres de agrotóxicos, transgênicos e afins. Buscar feiras de produtores ao invés de entregar nossa energia
de mão beijada às multinacionais e grandes distribuidores. Entrar em
contato direto com os produtores nestas feiras para que eles saibam que há cada
vez mais pessoas que buscam alimentos sãos e que existem iniciativas como a
Rede Ecovida onde eles podem buscar informação e apoio para mudar seu estilo de
produção. Formando cooperativas de consumidores para comprar produtos orgânicos
não perecíveis diretamente de cooperativas de produtores.
Existe uma infinidade de soluções ecológicas para produzir
alimentos sem agredir nossa Mãe Terra, trabalhando com ela e ajudando-a
a recuperar-se dos efeitos causados por esta perversa forma de ver a vida, como
produto, como cifras, como lucro. Uma vez trabalhando com boas receitas de
compostagem, húmus, terra preta e tantas outras
tecnologias apropriadas, recupera-se a vida do solo. Quando isso ocorre,
produzir organicamente e com biodiversidade torna-se, além de uma série de
outras vantagens, inclusive mais barato. Mas muito mais importante que isso,
estaremos cultivando cultura, saúde, alegria, sincronia, cor, sabor, aromas, ar
e água puros, enfim, produzindo qualidade de vida para nós mesmos e para todo o
planeta.
Uma amiga alemã chamada Saskia uma vez me disse algo que
nunca me abandonou. Assim ela disse: “Quando você cultiva plantas, rega-as
todos os dias, sorri, canta e conversa com elas, estas plantas vibram de amor
por você. E todos os alimentos que elas produzirem vão estar carregados deste
amor”
Pra quem quiser ampliar conhecimentos sobre agroecologia e possibilidades para uma vida sustentável em geral, recomendo alguns links:
Sites:
Livros:
E um texto excelente: